A PELEJA DE ZÉ RAMALHO COM O DONO DO INFERNO
No tempo em que Zé Ramalho
Voava com avohai
Nas terras de Paraíba
Em motes de entra-e-sai
Sete pés, moirão voltado
Ou martelo agalopado
E moirão que você cai
Cantando de tudo um pouco
Chão de Giz e Beira Mar
Força Verde, Frevoador
Tudo mais que possa entrar
Na cabeça do cometa
Girando na carrapeta
No jogo de improvisar
Tocando sua viola
No meio do povaréu
cantando xote e baião
Debaixo do azul do céu
Jogando mote decente
Alegrando sua gente
De doutor à tabaréu
Tudo estava tranqüilo
A tarde chegava ao fim
Quando de um redemoinho
Apareceu o azucrim
Desafiando o trovador
Violeiro e cantador
Para uma luta sem fim
O nosso querido Zé
Não se dando por achado
Se alevantou num instante
Encarando o danado
Falou: cai fora beiçola
Cantando assim na viola:
Vou te capar, seu viado
Bicho de sete cabeças
Mais feio que o fim do mundo
Não assustou nosso herói
Mesmo sendo nauseabundo
Porquê mestre Zé Ramalho
Firme como um carvalho
Não é nenhum fremebundo
No mote das amplidões
Ou no ABC do sertão
Décimas de um cantador
Pelo vinho e pelo pão
Nada se mostrou igual
Como a feiúra mortal
Vista na cara do cão
Mas isso em nada assustou
Nosso cavaleiro andante
Que riscou sua viola
Feito espada cortante
Dizendo pra belzebu
Vá tomar nesse teu cu
Não dou mole pra bufante
Numa nação nordestina
Onde só dá cabra macho
Zé Ramalho assim falou
Vou te fazer de capacho
E repicando a viola
Chamou satanás de boiola
E quis cortar seu penacho
O coisa ruim percebeu
Que a peleja ia ser dura
Pois o homem que ali estava
Tinha jogo de cintura
E sem dar nenhum aviso
Abandonou o improviso
Com cara de saracura
Zé Ramalho com o brilho
De uma estrela cadente
Carregado pelo povo
Nos ombros da sua gente
Como herói foi aclamado
Por todos foi respeitado
E virou um expoente
Quanto ao fim do bicho feio
Ninguém sabe, ninguém viu
Com o rabo entre as pernas
Saiu de cena e sumiu
Pulando como um macaco
Enfiando a viola no saco
Foi cuidar do seu xibiu.