FILHOS DA EXCLUSÃO
(versos de denúncia e revolta)
Sou poeta da roça
Foi lá que nasci
Escrevo poesia
Que fala da vida
Somente essa lida
Me faz tão feliz
Escrevo o amor
Na sua essência
Minha inteligência
Foi dada por Deus
Meus versos tem cara
De gente sofrida
Que sofrem na vida
Assim como eu
Gente, cuja vida
Lhe tem sido ingrata
Aquela madrasta
Que ninguém merece
Aquele roceiro
De mão calejada
Que no cabo da enxada
Só sofre e padece
Sou poeta que canta
A dor da exclusão
De todo irmão
Sem maldade ou malícia
Socado nas brenhas
Do sofrido nordeste
Cuja vida se emerge
Da dor da injustiça
Meus versos são gritos
Da mulher sertaneja
Que sofrem a incerteza
Quando vai dar a luz
Sem a garantia
De um parto seguro
Em um quarto escuro
Clama por Jesus
Escrevo o caboclo
Infeliz agregado
Do patrão desalmado
Que lhe explora e humilha
Por conta da palhoça
De piso de barro
Onde o pobre coitado
Abriga a família
Meus versos são toscos
Como tosca é a vida
Da gente sofrida
De minha infância
Que trabalha bem muito
E comia bem pouco
Meu verso é o esboço
De tristes lembranças
Hoje bem distante
Daquela realidade
Moro na cidade
Vivo o oposto da vida
Lá do meu sertão
Como autodidata
Descrevo o que trago
Muito bem guardado
Em meu coração
Agradeço ao bom Deus
Por fazer-me poeta
E da vida incerta
Haver-me tirado...
E poder expressar
A minha emoção
Nos versos que então,
Me são inspirados
A todo roceiro
O caboclo forte
Do sul ou do norte
Ao irmão brasileiro...
Dedico esses versos
Que incomoda e afeta
A este poeta
O J. Pinheiro
IMPORTANTE: Estes versos, que para alguns não passam de coisas do passado, expressam uma dura realidade presente, em muitos recantos do Brasil. Convivi com sertanejos vítimas desse mal social, há bem pouco tempo e há alguns anos pela frente, ainda veremos poetas como eu, explorando tema tão triste e tão vergonhoso para todos nós.
O Autor.
Poeta J. Pinheiro
Do seu Livro "Meus versos, minha vida"