LAMPIÃO-O REI DO CANGAÇO. (MORTE)
LAMPIÃO O REI DO CANGAÇO (MORTE).
Guel Brasil.
Lampião era cego de um olho
Vazado por uma lasca de espinheira,
Mesmo assim era exímio atirador
E um estrategista de primeira,
No rigor da lida do cangaço
Virgulino não era brincadeira.
Virgulino Ferreira O Lampião
Comandava seu bando com rigor,
Era um homem bastante impulsivo
Por onde andava espalhava o terror,
Noutras vezes era bom e generoso
Para os pobres era homem de valor.
Pra matar não pensava duas vezes
O bastante era pensar que devia,
Deu um tiro na testa do próprio irmão
Pra não vê-lo sofrer com agonia,
Ezequiel Ferreira da Silva
Estava marcado pra morrer naquele dia.
Lampião se amoitava em qualquer canto
Desta vez foi nas terras da Bahia,
Na fazenda Malhada da Caiçara
Pra fazer uma parada de três dias,
Acabou ficando mais de dez
De namoro com sua doce Maria.
Maria Déia casada e comprometida
Com um comerciante da região,
Era loucamente apaixonada
Por Virgulino Ferreira o Lampião,
Trocou seu conforto na Cidade
Pra viver pelas quebradas do Sertão.
Despediu-se do esposo e da família
Pra viver uma vida de terror,
Desse amor apenas uma filha
Expedita foi assim que se chamou,
Não podia ser criada no cangaço
Foi o vaqueiro Manuel Severo quem criou.
Maria Bonita como ficou conhecida
Foi o único amor de Lampião,
Corajosa aprendeu ser cangaceira
E também atirar com mosquetão,
Foi baleada por uma ou duas vezes
Mas escapou sem seqüela e sem lesão.
Virgulino sertanejo inteligente
Era poeta farmacêutico e dentista,
Era medico vaqueiro e artesão
Guerrilheiro e bom estrategista,
Cangaceiros do bando de Lampião
Nas Caatingas não deixavam sua pista.
Foram quase vinte anos de cangaço
Torturando, pilhando e matando gente,
O cangaço até hoje continua
Como crime organizado e delinqüente,
Espalhou-se pelas grandes capitais
Mas com uma roupagem diferente.
Lampião vestia-se de vaqueiro
Calça, chapéu de couro e gibão,
Andava sempre armado até os dentes
Com peixeira punhal e mosquetão,
Bons cavalos pra fugir das emboscadas
Pelas Caatingas nas quebradas do sertão.
Hoje em dia cangaço é engravatado
E mudou-se para as grandes capitais,
Fazem coisas que até Lúcifer duvida
Numa guerra que parece não ter paz,
Comparando com os bandidos de hoje em dia
Lampião foi honesto até demais.
Lampião fez muitos desafetos
Por todos os lugares que passou,
No costume de passar anos a fio
Nesse dia sua intuição falhou,
Um coitero que dizia ser amigo
O bando inteirinho entregou.
Ironia do destino ou coincidência
Diz a historia que assim aconteceu,
Virgulino nasceu no mês de julho
Na trilha que o destino lhe deu,
Com quarenta e um anos de idade
Veio a morte pra selar o destino seu.
De passagem no Estado de Sergipe
Na fazenda Angicos acampou,
Numa grota que pensava estar seguro
Desta vez sua intuição falhou,
Foi bem ali na Grota de Angicos
Que sua vida no cangaço terminou.
Virgulino conhecia cada canto
Cada grota que existia no sertão,
Dizia sempre que o lugar era seguro
Mas não escapou da maldita traição,
Mês de julho do ano de trinta e oito
Tombou sem vida o cangaceiro Lampião.
A volante do tenente João Bezerra
E seus macacos armados até os dentes,
Pegaram todo o bando de surpresa
Com metralha mosquetão e chumbo quente,
Se a noite não tivesse tão chuvosa
Essa historia seria diferente.
Eram trinta e quatro cangaceiros
Lampião foi o primeiro que tombou,
Em seguida foi Maria Bonita
Que agonizando ali no chão ficou,
Foram onze cangaceiros mortos
E o resto do bando escapou.
A volante num gesto desumano
Cortou a cabeça de Lampião,
Decepou a de Maria Bonita
Ainda viva agonizando ali no chão,
O mesmo ocorreu com Quinta-Feira
E com o cangaceiro Mergulhão.
Foram onze cabeças decepadas
E seus corpos não foram enterrados,
Os urubus fizeram a limpeza
Nos onze corpos que ali foram deixados,
Desumana a atitude da Volante
Que sequer os ossos foram encontrados.
João Bezerra agora Coronel
Exibiu as cabeças pra onde ia,
Foi pra historia contando suas façanhas
Enquanto isso as cabeças apodrecia,
Trinta anos depois foram enterradas
Pondo fim a essa extrema covardia.
Foi o fim do cangaço no sertão
Que agora está nas grandes capitais,
O “Rei do Cangaço” hoje é historia
E fazer o que ele fez não tem quem faz,
Comparando com os bandidos de hoje em dia
Lampião foi honesto até demais.
Nota do autor: Muitos cordelistas já escreveram sobre Virgulino com suas estrofes em vários formatos; aqui está a minha narrativa da vida e da morte de Virgulino, com estrofes no formato de sextilha, com princi- pio meio e fim. O cangaço na realidade, e segundo informações nos anais da história, levou ainda um certo tempo até tombar o ultimo dos Cngaceiros; Corisco, “O Diabo Loiro”que escapou da emboscada na Grota de Angicos, depois de matar toda a família do coiteiro que entregou o bando do Rei do Cangaço, deu muito trabalho pras volantes até ser morto por volta dos anos quarenta. Depois eu conto essa história.
Guel Brasil.