OS DOIS VÉIOS MEXERIQUEIROS.

Um certo dia dois véios,

Puseram-se a prosear,

Em tudo punham defeito,

Até mesmo aonde não há,

Oh dois veios linguarudos,

Falavam de Deus e o mundo,

Até suas línguas cansar.

Um dos véios era baiano,

Nascido em Morangaba,

Por nome de Zé Condongo,

E tinha a língua afiada,

Passava o dia sentado,

Em seu alpendre encostado,

Nada do véio escapava.

Andava sempre pomposo,

Parecendo um magnata,

Não saia a nenhum lugar,

Sem paletó e gravata,

Sarará dos olhos azedos,

Era feio de meter medo,

Pior do que pai da mata.

O outro era Sergipano,

Nascido em Areia branca,

Falava de Qualquer um,

Mais brabo que uma onça,

Tinha um apelido engraçado,

Chamavam-no Desmembrado,

Porem não aceitava afronta.

Desmembrado ali morava,

Desde o seu nascimento,

E quando o véio se zangava,

Dava coice igual jumento,

Ali ninguém era intrometido,

Pra chamá-lo pelo apelido,

A esse tal véio rabugento.

Chamavam de desmembrado,

Porem nunca em sua frente,

Por perder parte do membro,

Em um terrível acidente,

Mas seu nome verdadeiro,

Era Anófele Souto Regueiro,

Aquele véio impertinente.

Um dia em areia branca,

Numa festa de São João,

Os veios se conheceram,

Numa roda de Quentão,

E por uma casualidade,

Os dois fizeram amizade,

Naquela festa de então.

Papo vai e papo vem,

Era grande a animação,

E os véios cheios da cana,

Lá num canto do salão,

Ficavam observando,

E com o dedo apontando,

Vejam só que situação.

Conforme observavam,

Puseram-se a comentar,

Tudo que ali se passava,

Não se poupavam em falar,

Zé Condongo e Desmembrado,

Eram mesmo descarados,

Pra ver os defeitos e contar.

Falavam de quem dançava,

Dos que estavam parados,

Dos garçons e das comidas,

Do presente e do passado,

Pois só ficavam contentes,

Batendo a língua nos dentes,

Sem importar com o resultado.

A festa estava animada,

Tinha quadrilha e forró,

E milho assado na brasa,

Queijo no espeto e pão deló,

Pé de moleque e quentão,

Bolo de milho e canjicão,

E até amor pra quem ta só.

Passou por eles um casal,

Numa roda de lambada,

O cabra era um negrão,

De cabeleira invocada,

A mulher era magrinha,

Com uma saia curtinha,

Rodava feito uma praga.

O negrão muito ligeiro,

Parecendo um serelepe,

E a mulher se segurava,

Grudada igual um chiclete,

Enquanto o suor pingava,

O forró mais esquentava,

E os véios soltavam o breque.

Zé Condongo nessa hora,

Vendo aquela presepada,

Da mulher com o negrão,

Chega sua língua coçava,

Cutucou o desmembrado,

Que estava estatelado,

Só a cabeça balançava.

Começou o falatório,

Dos dois véios nessa hora,

Zé Condongo logo disse,

Compadre vamos embora,

Não to mais com a idade,

De ver essa safadagem,

Que acabei de ver agora.

O outro disse que nada,

Agora que a coisa ta boa,

Vou beber é mais quentão,

Já que estou mesmo atoa,

Disse nós vamos prosear,

Quando a festa se acabar,

Vamos falar das pessoas.

E disse olhe aquele cabra,

Com a garrafa na mão,

Parece um socó cansado,

Fugindo dum tubarão,

E seu chapéu amarelo,

Mais parece um cogumelo,

Numa roça de melão.

Zé Condongo já de fogo,

Disse é mesmo pra acabar,

Olha a boca daquele outro,

Mais parece um caçoá,

Amarrado pelo meio,

Óxente que sujeito feio,

Nem plástica vai concertar.

Disse então o desmembrado,

Veja só aquele cabeludo,

Parece um porco espinho,

E alem do mais é barbudo,

Diz ele que está na moda,

Esse tem feiúra de sobra,

Pra ele e o resto do mundo.

Olha que os véios falaram,

Até que findou-se a festa,

Só sei que tem gente assim,

Que pra ele nada presta,

Se é verdade ou ficção,

Tire aqui você à conclusão,

Antes de fazer uma festa.

Cosme B Araujo.

20/09/2012.

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 20/09/2012
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