A divina inspiração, Parte II * Damião Metamorfose.
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Acho inspiração no leito
E quando vou pro banheiro.
Na água e no sabonete,
No xampu e no chuveiro.
Em tudo eu encontro ela
E me lambuzo inteiro!
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Feito gota em nevoeiro
Que se esparrama no chão.
Que juntas com outras gotas
Formam córregos, riachão.
A minha mente transborda
Quando chega a inspiração!
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Eu me inspiro na paixão,
No amor e na bonança,
No olhar distante do idoso,
No sorriso da criança.
Minha inspiração é fértil
Vai aonde a mente alcança!
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Numa gota de esperança
No orvalho da madrugada,
Na tempestade e na brisa,
Na relva seca e molhada.
Eu encontro a inspiração
No pouco, no tudo ou nada...
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Dou a primeira cartada
E vai ganhando expansão.
Quando eu menos espero
Vira uma composição.
Por isso agradeço ao Deus
A divina inspiração!
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Em um pedaço de pão
Com café quente e cheiroso.
No vento feito um moleque
Na folha do fedegoso...
Eu encontro a inspiração,
No certo e no duvidoso!
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No vento que é buliçoso
Eu encontro a inspiração.
Na folha seca da mata,
Que o vento as joga no chão.
Deixando sem camuflagem
O verde camaleão!
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Escrevo por diversão
E lendo o que o outro escreve.
Uma boa deixa ajuda
Deixando a estrofe mais leve.
Mas é a inspiração
Que mostra como se deve!
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Minha inspiração é breve
Do simples ao importante.
A inspiração aflora
De uma forma radiante.
Ai meu estro dispara
Rasga a mente e vai adiante!
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A minha veia pulsante
De poeta popular.
Por não ter sido explorada
Ou por não ousar cantar.
Tem horas que pulsa tanto
Que o verso chega a jorrar!
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Um motivo pra versar
Eu busco a cada momento.
Seja em casa, no trabalho,
Na estrada ou ao relento.
Preciso da inspiração
Pra compor meu pensamento!
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Busco nas asas do vento,
Um assunto, um conteúdo...
Pra depois compor estrofes
Ou um Cordel mais polpudo.
Mas sem ter a inspiração
Eu vou derrapando em tudo!
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Se o meu estro desnudo
Todo eu transformasse em versos.
Dava para escrever
Livros de estilos diversos
Mas sem a inspiração,
São pensamentos dispersos!
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Às vezes sou adverso,
Para o meu verso primeiro.
Depois de um vem o outro,
Mais outro e um Cordel inteiro.
Sem inspiração não vivo
Feliz, cantando, fagueiro...
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Meus versos brotam ligeiro,
As estrofes enchem um trem.
As rimas lotam um estádio,
Mas tudo tem um, porém.
Sem a inspiração divina
Nenhum dos três soa bem!
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Me inspiro no que convém,
Para falar do passado.
Nas coisas do dia-a-dia
Do mundo globalizado.
Busco inspiração em tudo
Pra me manter inspirado!
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Quando estou enclausurado
Minha inspiração vagueia.
Transborda e sai invadindo
A minha vida e a alheia.
Mas quando estou com meu bem
Até gelo ela incendeia!
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A inspiração clareia
Quando eu sigo bem a deixa.
O assunto e o estilo...
Procurar não fazer queixa.
Ai é mamão com mel
Bom humor, sem fazer reixa!
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Minha inspiração desfecha
Com um prato de comida.
Também me inspiro na fome
Que quase tirou-me a vida.
Minha inspiração é fértil
Numa noite bem dormida...
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A inspiração me convida
Para ser quem eu quiser.
Apesar de que o poeta
Pode até ser um qualquer.
Porém um qualquer não pode
Ser poeta quando quer!
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Quando a inspiração vier
Meu estro vira um trator.
E sai revirando tudo
Qualquer assunto que for.
Ai é só sobrar tempo
Que eu começo a compor!
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Eu não consigo me impor
Quando eu fico agitado.
Tendo um papel eu rabisco
O assunto desejado.
Mas fico mais a vontade
Com as mãos em um teclado!
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Quando eu for pro outro lado
Talvez noutra encarnação
Eu não volte a ser poeta
Seja em qualquer profissão.
Nunca a farei bem feita
Se faltar a inspiração!
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Inspiro-me no oitão
Da casa velha sem dono.
Na caatinga cinzenta
No “serrote” cor carbono.
Na noite inteira dormida
Ou acordado e sem sono!
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Inspiro-me no hábil dono
De um bordel que abre a porta.
Preto, branco, rico, pobre...
Tendo grana, se conforta.
Corpos vivos na vitrine
Escondem uma alma morta!
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Me inspiro na vida torta
Daquele que sempre vai
A igreja ou sinagoga
Ou qualquer casa do “pai”
E por se achar um santo
Pensa que a “casa” não cai!
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Quando eu tento e nada sai
O verso perde a oração...
O dia é mais cansativo,
À noite eu sonho em vão
Com o dia em que o dia
Vou ter mais inspiração!
*
Faço uma doce ilusão
Ser real por um segundo.
O simples fica mais simples
O complicado, profundo.
Com a inspiração eu mudo
Até as cores do mundo!
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Quando ela chega, eu vou fundo
No assunto em questão.
Cordel longo ou uma estrofe,
Soneto, frase ou bordão...
Tudo fica muito simples
Pra quem tem a inspiração!
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Quando eu uso a munição
Do meu revolver poético.
O meu alvo é o leitor
Seja ele crente ou cético...
E eu sem a inspiração
Sou um poeta patético!
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Inspiro-me no som frenético,
Do barco, o vento e o mar.
Vela vento leva um sonho
De um pescador a sonhar.
E eu sonho com a verve
Perfeita ao meu declamar!
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Bem calmo eu não sei ficar,
No dia que não escrevo.
Pois quando a inspiração
Chega à mente vira um frevo.
Porem quando ela não vem
Fico quieto, não me atrevo!
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Com inspiração eu descrevo
O verso e o seu conteúdo.
Sem ela eu fico calado,
Com ela eu não fico mudo.
Rasgo as vestes da mente
E em versos eu conto tudo!
*
Fim