A divina inspiração, Parte II * Damião Metamorfose.

*

Acho inspiração no leito

E quando vou pro banheiro.

Na água e no sabonete,

No xampu e no chuveiro.

Em tudo eu encontro ela

E me lambuzo inteiro!

*

Feito gota em nevoeiro

Que se esparrama no chão.

Que juntas com outras gotas

Formam córregos, riachão.

A minha mente transborda

Quando chega a inspiração!

*

Eu me inspiro na paixão,

No amor e na bonança,

No olhar distante do idoso,

No sorriso da criança.

Minha inspiração é fértil

Vai aonde a mente alcança!

*

Numa gota de esperança

No orvalho da madrugada,

Na tempestade e na brisa,

Na relva seca e molhada.

Eu encontro a inspiração

No pouco, no tudo ou nada...

*

Dou a primeira cartada

E vai ganhando expansão.

Quando eu menos espero

Vira uma composição.

Por isso agradeço ao Deus

A divina inspiração!

*

Em um pedaço de pão

Com café quente e cheiroso.

No vento feito um moleque

Na folha do fedegoso...

Eu encontro a inspiração,

No certo e no duvidoso!

*

No vento que é buliçoso

Eu encontro a inspiração.

Na folha seca da mata,

Que o vento as joga no chão.

Deixando sem camuflagem

O verde camaleão!

*

Escrevo por diversão

E lendo o que o outro escreve.

Uma boa deixa ajuda

Deixando a estrofe mais leve.

Mas é a inspiração

Que mostra como se deve!

*

Minha inspiração é breve

Do simples ao importante.

A inspiração aflora

De uma forma radiante.

Ai meu estro dispara

Rasga a mente e vai adiante!

*

A minha veia pulsante

De poeta popular.

Por não ter sido explorada

Ou por não ousar cantar.

Tem horas que pulsa tanto

Que o verso chega a jorrar!

*

Um motivo pra versar

Eu busco a cada momento.

Seja em casa, no trabalho,

Na estrada ou ao relento.

Preciso da inspiração

Pra compor meu pensamento!

*

Busco nas asas do vento,

Um assunto, um conteúdo...

Pra depois compor estrofes

Ou um Cordel mais polpudo.

Mas sem ter a inspiração

Eu vou derrapando em tudo!

*

Se o meu estro desnudo

Todo eu transformasse em versos.

Dava para escrever

Livros de estilos diversos

Mas sem a inspiração,

São pensamentos dispersos!

*

Às vezes sou adverso,

Para o meu verso primeiro.

Depois de um vem o outro,

Mais outro e um Cordel inteiro.

Sem inspiração não vivo

Feliz, cantando, fagueiro...

*

Meus versos brotam ligeiro,

As estrofes enchem um trem.

As rimas lotam um estádio,

Mas tudo tem um, porém.

Sem a inspiração divina

Nenhum dos três soa bem!

*

Me inspiro no que convém,

Para falar do passado.

Nas coisas do dia-a-dia

Do mundo globalizado.

Busco inspiração em tudo

Pra me manter inspirado!

*

Quando estou enclausurado

Minha inspiração vagueia.

Transborda e sai invadindo

A minha vida e a alheia.

Mas quando estou com meu bem

Até gelo ela incendeia!

*

A inspiração clareia

Quando eu sigo bem a deixa.

O assunto e o estilo...

Procurar não fazer queixa.

Ai é mamão com mel

Bom humor, sem fazer reixa!

*

Minha inspiração desfecha

Com um prato de comida.

Também me inspiro na fome

Que quase tirou-me a vida.

Minha inspiração é fértil

Numa noite bem dormida...

*

A inspiração me convida

Para ser quem eu quiser.

Apesar de que o poeta

Pode até ser um qualquer.

Porém um qualquer não pode

Ser poeta quando quer!

*

Quando a inspiração vier

Meu estro vira um trator.

E sai revirando tudo

Qualquer assunto que for.

Ai é só sobrar tempo

Que eu começo a compor!

*

Eu não consigo me impor

Quando eu fico agitado.

Tendo um papel eu rabisco

O assunto desejado.

Mas fico mais a vontade

Com as mãos em um teclado!

*

Quando eu for pro outro lado

Talvez noutra encarnação

Eu não volte a ser poeta

Seja em qualquer profissão.

Nunca a farei bem feita

Se faltar a inspiração!

*

Inspiro-me no oitão

Da casa velha sem dono.

Na caatinga cinzenta

No “serrote” cor carbono.

Na noite inteira dormida

Ou acordado e sem sono!

*

Inspiro-me no hábil dono

De um bordel que abre a porta.

Preto, branco, rico, pobre...

Tendo grana, se conforta.

Corpos vivos na vitrine

Escondem uma alma morta!

*

Me inspiro na vida torta

Daquele que sempre vai

A igreja ou sinagoga

Ou qualquer casa do “pai”

E por se achar um santo

Pensa que a “casa” não cai!

*

Quando eu tento e nada sai

O verso perde a oração...

O dia é mais cansativo,

À noite eu sonho em vão

Com o dia em que o dia

Vou ter mais inspiração!

*

Faço uma doce ilusão

Ser real por um segundo.

O simples fica mais simples

O complicado, profundo.

Com a inspiração eu mudo

Até as cores do mundo!

*

Quando ela chega, eu vou fundo

No assunto em questão.

Cordel longo ou uma estrofe,

Soneto, frase ou bordão...

Tudo fica muito simples

Pra quem tem a inspiração!

*

Quando eu uso a munição

Do meu revolver poético.

O meu alvo é o leitor

Seja ele crente ou cético...

E eu sem a inspiração

Sou um poeta patético!

*

Inspiro-me no som frenético,

Do barco, o vento e o mar.

Vela vento leva um sonho

De um pescador a sonhar.

E eu sonho com a verve

Perfeita ao meu declamar!

*

Bem calmo eu não sei ficar,

No dia que não escrevo.

Pois quando a inspiração

Chega à mente vira um frevo.

Porem quando ela não vem

Fico quieto, não me atrevo!

*

Com inspiração eu descrevo

O verso e o seu conteúdo.

Sem ela eu fico calado,

Com ela eu não fico mudo.

Rasgo as vestes da mente

E em versos eu conto tudo!

*

Fim

Damião Metamorfose
Enviado por Damião Metamorfose em 10/09/2012
Código do texto: T3875141
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