ESPERANÇA DE IMIGRANTE
(A Noção do Êxodo)
Pra compor o que pretendo
Nestes versos humorados
Peço a ajuda dos deuses
Cordelistas renomados...
Pois como diria o papativa
No momento aqui lembrado,
Coisa feia nesta vida
É poeta suicida,
Que versa de pé quebrado
Cheguei nesse maranhão
Tristonho e amaigurado
Cuns pé todo isfolado
Arrastano uma cachorrinha,
De tanto necessitado...
Hoje apói tantos ano
De sofrimento e murrinha,
Vim arrastano a bichinha
E vorto por ela arrastado
Minha vida tem sido mai dura
que carôço de tucum
Muito mai arrastada
qui rama de girimum
É bem fraco o meu passar
Sempre de mal a pió,
Vorto pro meu tabulêro
Pruquê lá eu sou romeiro
Apoi quem afundou juazeiro
Num me dêxa morrer só
Lá eu tenho minhas primas
Filomena e conceição,
O amigo severino
E meu cumpade tião...
lá tem tanta gente minha
Dá pra mai de um miêro
Tanto lá im juazêro
Parmerinha e buquêrão
Eu já falei pra constança:
Muié, a coisa tá rôxa!
Vá arrumar nossas trôxa
Qui nói vai é viajar...
Vendo minha póica baé
Minha ispingarda lazarina
Vamo cumprir nossa sina
No nosso torrão natá
Aqui, num me ludo mai
Vim praqui quage rapaz
Só cum a muié e sem famia...
Hoje o mai véio já tem trinta
Minha fia vinte e oito
de tanto roer só ôsso
Vivem de canela fina
Meu distino foi cotó
Nunca passei dum bocó
O mai pobe dessa grei...
Vivi sempre em agonia
Nessa terra de gonçave dia,
Onde quem manda é Sarney
Deus me perdoe se peco
Eu vivo num retrocesso
Pra nói num ai pogresso
É pobreza de fazer dó...
O barraco tem tanto buraco
Qui é mió drumir na rua
É cuma o canto da pirua,
É de pió a pio
Lá no meu juazêro
Sei qui vou continuar pobe
Mai pelo meno se pode
tê um pouco de esperança...
Aqui só vivo doente
É malara, impaludismo
E inté o rematirmo
Já atacou a Constança
Vou teiminá minha quêxa
Já corre água dos óio
Cuma sô home num choro
Só lamento o tempo inteiro...
Agora sigo sonhando
Cum um dia nói chegano
E minha premessa pagano,
Na matriz de juazeiro
Poeta J. Pinheiro
Do seu Livro "Meus versos, minha vida"