MALÍCIA CABOCLA
Morena esse teu xamego
Cum esse teu rebolado
Tá me trazeno um arripio
Acendeno o meu pavio
Me dexano aperriado
Meu coração tá pulano
Qui só bode im tabulêro
Caititu dentro de baiceiro
Quando o fugaréu vem brabo
Esse teu remexedor
Tem feitiço, tem mandinga
Parece uma cobra tinga
Prá enrroscar no cabrito
Armano o bote certeiro,
Tô iguá fumo de rolo
Picadim qui nem cuento
Prá ser socado prá dento
Do cachimbo fedorento
Queimado no tabaquero
Morena tem dó de eu
Num faz assim que eu indoido
Fico agitado e neivoso
Me dá logo um trimilique
Peicorreno o coipo intêro,
Ah se eu pudesse ser
Um ixelente tocador
Um afamado dotô
Um pagé, um curandeiro
Prá curar tua doença
Cum toda maledicença
Aparipar esse teu pandeiro
Mai cuma num sou, fico aqui
Suano qui nem chalêra
E essa minha suadêra
Já chegou no mocotó,
Tem pena desse bocó
Tu parece uma visage
Quereno tirar vantage
Morena vê se tem dó!
Essa tua saia curta
De xita gastinha e rala
Fere mai que o isporão
Da venenosa arraia
Eu só fico aperriado
Até minha vista faia
De pensar cuma será
Isso qui tu tem guardado
Mai muito bem camuflado
Pru baixo da tua saia
Tu tá fazeno eu pecá
Cuma vai ser doravante ?
Vou sempre me arrepiar
Mai uma vez vou suá
Toda vez qui me alembrar
Desse mardito instante
Mai se o distino assim quis
Já qui num posso dá jeito
Eu quero fazer bem feito
Sendo o maior dos pecador
E se é assim, vem menina
Vamo cumprir nossa sina
Levante essa saia fina
Me dá teu remexedor!
Poeta J. Pinheiro
Do seu Livro “Meus versos, minha vida”