POBRE SERTÃO
POBRE SERTÃO
Que vento nefasto!
Me dá arrepio
Ouço o assovio
Da telha que treme
Caatinga que geme
Tamanha a secura
Morre a criatura
Num barco sem leme
.
Um sol escaldante
Devorando a gente
Até meu repente
Sai quente na hora
O romper d ' aurora
É pura tristeza
A mãe natureza
Não vem, que demora!
Vertente de seca
É o meu sertão
Não pinga no chão
Metade do ano
Que seca! Que dano!
Sem ter um lampejo
Só sobras: Sobejos
Fracassados planos
A boca rachada
Do forte calor
Que causa estupor
Em todo vivente
O sol inclemente
Um fogo medonho
Olhar bem tristonho
De estrela cadente
Um povo sofrido
Nas mãos desse clima
As ordens de cima
É nunca chover
E haja sofrer
Um mar de lamúria
Que seca, que fúria!
Vidas a perder
Maldita estiagem
Que torra o Sertão
Extenso verão
Fase de El Niño
Pássaro sem ninho
Assim eu me sinto
Verdade, não minto!
Sigo meu caminho!
Do alto da serra
Sertão todo vejo
Pobre lugarejo
As folhas em pó
Os ráios do sol
Inferno vermelho
Peço de joelho
Meu Deus tenha dó
Que sina de gado
Sertanejo tem
Nesse vai e vem
De seca e inverno
Parece um inferno
Caldeira fervendo
O fogo comendo
Suplício eterno....