DISCURSO ELEITOREIRO
Ontem à noite eu dormi
E sonhei que perto de mim,
Um político mentiroso
Num comício bem ruim,
De uma forma descarada
Com a voz emocionada,
Ele discursava assim:
" Meu senhor, minha senhora
Vote em mim nesta eleição,
Sou um sujeito decente
Sou um pacato cidadão,
Eu sou firme e verdadeiro
Vou passar o tempo inteiro,
Trabalhando pra nação.
Se eu for eleito prefeito
Nesta terra de valor,
Faço até o impossível
Pelo pobre eleitor,
Dou casa, cama, comida,
Carro, dinheiro e bebida,
Seja lá o que diabo for.
Vou calçar todas as ruas
Fazer praças e jardins,
E mandar vir lá do céu
Quarenta e um querubins,
Pra ficar distribuindo
De cara boa, sorrindo,
Uns pacotes de alfenins.
Vou fazer uma avenida
Com pedras de diamante,
Para você passear
Alegre e muito elegante,
Para assim admirar
A beleza de um lugar,
De brilho estonteante.
Água pura e cristalina
Vai jorrar por todo lado,
Você não paga mais nada
Porque tudo vai ser dado,
Se você algo comprou
E a conta não pagou,
Também será perdoado.
Ônibus passando na porta
Toda hora e todo instante,
Eu estou até pensando
Em transporte itinerante,
Você chama, ele vem,
Penso que isto também
Vai ser muito interessante.
Eu vou distribuir queijo
Tapioca e rapadura,
Farinha, milho, feijão,
Toda a sorte de mistura,
Quero ver povo sorrindo
Alguém estará mentindo
Se disser que a vida é dura.
Escolas funcionando
Todo dia e toda hora,
Crianças alimentadas
Daqui ninguém vai embora,
Uma cidade bem linda
O que não foi feito ainda,
Juro! Vou fazer agora!
Vou construir muitas casas
Para a população
De preferência, na garagem,
Vou colocar um carrão
Você não compra mais nada
Tem uma vida abastada,
Diga lá - é bom ou não?
Saúde, não se preocupe,
Vai melhorar com certeza
Os médicos, de rua em rua,
Sorridentes e com presteza,
Você dizendo o que sente
Num instante, de presente,
Vem a cura! Que beleza!
A questão da segurança
Eu vou resolver também,
Não lhe roubarão mais nada
Pode mostrar o que tem,
Polícia pra todo lado
Você ficará guardado
Tudo calmo! Tudo bem!
E agora, neste momento,
Meu abraço derradeiro,
Vou findando meu discurso
E digo, meu companheiro,
Eu não sou amigo urso
Se você não tem recurso
Arranjo-lhe algum dinheiro."
Acordei, registrei tudo,
E fui dormir novamente
Logo voltei a sonhar,
Que pesadelo insistente!
Era a posse do prefeito
E ele todo satisfeito,
Dizia pra sua gente:
"Graças a Deus, fui eleito
Nesta me dei muito bem,
Distribuí dentaduras
Roupas, sapatos também,
Eu digo, sinceramente,
Sou um cara competente
E não devo nada a ninguém.
E agora, caro eleitor,
Eu vou lhe presentear
Com um tapete voador,
Para você viajar
Enfatiotado, num terno,
Para os quintos do inferno
E nunca mais me procurar!"
***
Maria do Socorro Domingos dos Santos Silva
João Pessoa, 04/09/2012