CUPIDO TRAVESSO

CUPIDO TRAVESSO

Jorge Linhaça

Esse anjinho amalucado

que vive a dar flechadas

é um garotinho levado

que gosta de dar risadas

mistura casais a seu grado

e não quer saber de mais nada

Veja só algumas doideiras

criadas pelas suas estripulias

podem parecer brincadeiras

mas nem sempre são pura folia

que o diga a Maria peixeira

viúva do seu malaquias

Estava ela bem da quieta

vendendo peixe nu mercado

quando sentiu a ponta da flecha

desse tal cupido arretado

num pode mais ver uma cueca

sem o fogo lhe vir redobrado

e o pobre do Zeca robalo

da barraca concorrente

é quem arca com o estrago

desse anjo delinqüente

entre um e outro trago

vai fugindo o nosso vivente

Tem também a Terezinha

mulher madura e formosa

beata da Virgem Maria

que nem gostava de prosa

mas não escapou da pontaria

da flechada cor de rosa

Agora vive tão incendiada

que parece sentar num braseiro

deu de andar toda pintada

e enfiada no frio chuveiro

mas para ficar aquietada

só quando aparece o bombeiro

E o negro Juca Mulato

anda embeiçado pela Nina,

polaca filha do Fortunato,

dono de famosa cantina

moça sempre de fino trato

que ao Juca sempre amofina

Até o "seu" Joaquim padeiro

caiu do anjo na esparrela

agora passa o dia inteiro

pensando na mortadela

da mulher do tintureiro,

ah se o sabe a Manuela!!

E o cupido, anjo enxerido

vive sempre a gargalhar

separa mulher de marido

só para as histórias contar

por mais que seja descabido

este cordel vou encerrar

Antes que o tal anjo do pa'oco

vire o seu arco para mim

pois sou poeta mas não louco

e estou muito bem assim

a flecha não me pega por pouco

Valha-me meu São Valentim!