valei-me meu padim
Cordel.
Valei-me meu padin
Num ano seco
Seco que nem língua de papagai
Água do açude no porão
Na poeira seca o juá cai no chão
O gado berrando, chorando
Na estrada os cordão de gente
Se arribando do sertão.
No Ranchin
Dava pena de vê
O pobe do milho nem pode crescer
O feijão engurujano
A rama secano
E o patrão enfesado
Repetia na varanda:
“valei-me meu São José
Mandai chuva o tanto que dé
Valei-me meu Padin
Me amostre um camin!
Separo três cabras de sua confiança
Um cabra valente
Um gago inganjento
Um doido piuoiento
Se dizendo apaixonado
Pela filha do delegado
“¬vao lá no meu Padin
Pode dizer, que eu mandei pedir
10 toes de chuva
Pra terra esfriar
E meu gado se animá.
Se arrancaro na 1ª hora do dia
O gago i nfezado
O v alente afregelado
O doido apavorado
Repetindo aguniado
“¬prometo Justina
Quando eu vorta
Com eu teu pai vai deixa tu cazá!”
Era triste de ver
A terra naquele padecer
A cada passada
A poeira tapava
O sol queimava
O carão cantava
O gago repetia:
“¬valei-me Vixe Maria!”
Já tava perto da mei dia
A fome começava a se incosta
O valente abriu o borná
Nem dava pra acredita
Faz inté veigonha de fala
Tinha meia rapadura
Dois punhado de farinha
E um cadinho assim de fubá
Aquilo só faz a fome aumenta.
Debaixo dum pé de juá
Sentaro pra se alimenta
O gago a teima
O valente a recrama
E o doido a reza
E a danada da fome a aumenta
Agora era só esperara o sol esfriar
Pru mode continua
Mas que esfriar?!
O chão ficou tão quente
Capaz inté de um ovo estralar!
“¬É mio continua!”
Dizia o doido olhando o retrato de Justina
O gago arrebatô
“¬mamamá é só uma memenina!!
O valente repisou:
“¬deixem de bestage
Juazeiro fica é longe
E nois num tamo nem na metade do caminho
O doido animado
“¬e se daqui nois vortá?
O valente
“¬é mio nem pensa
É capaz inté de o patrão lhe matar!”
Caminharam inté escurecer
E o doido a dizer
“¬hoje de noite o negocio vai feder!”
Jogaram as esteiras
E ficaram olhando as estrelas
A caatinga seca
Um escuro de meter o dedo no olho.
No meio da escuridão
Um barulho se escutou
O valente puxou a pexera
Se levantou e gritou:
“¬quem está ai?”
O doido com medo
“¬se for desse mundo se amostre!”
E o gago:
“¬desde quando assombração fala?”
Mas o silencio continuou.
Quando o dia clareou
Num dava duas braças
Dois cabras darumia
As roupas em estado de desgraça
Mago só as carcaças
Mas quem se atreve
A percura
Quem aqueles dois cabras será?
O gago dizia
“¬valei-me Vixe Maria!”
O doido chorando:
“¬é os cabras de Lampião!”
O gago repetia
“¬diga isso não!”
O valente:
“¬e está feita a bagaceira
Com eu nem Lampião pode!”
Mas os cabras
De Lampião não era
Valentia quem dera
Os cabras mais medo que eles tinha.
Mas o medo passou
Quando um deles falou
Eram outros dois retirantes
Por ordem do patrão
A procura de água no sertão
“¬me adiscuipe o susto companheiro
Podemos na viagem lhe acompanhar!”
Andaram que nem má noticia
Olhando a rama seca da maliça
E as carcaças no sol a secar
Parecia inté que o mundo ia se acabar
Mal avistaram a ccapela
O trovão retumbou
O relâmpago clariou
E chuva no sertão chegou!