O MASSACRE EM CALDEIRÃO

O MASSACRE EM CALDEIRÃO

(Fato histórico “A Página

negra do Estado do Ceará)

Esta História é verídica

Por isso vem com “H”

Não é estória de trancoso

Daquelas que o povo conta,

Mas não tem como provar...

Esta aconteceu num lugarejo

Bem pertinho do Crato

No sopé da serra encravado

Lá no sul do Ceará,

Foi lá que o senso agrário

Humano e comunitário

Por meio de um Beato,

Veio a se manifestar

No início do século 20

Aconteceu o seguinte:

Por favor, preste atenção

Para compreender o embate

Como se deu o massacre

Na vila de “Caldeirão”

Antes dessa história contar

Devo agora apresentar

O líder e idealizador,

O homem que comandou

Aquele povo massacrado...

José Lourenço era o seu nome

Foi a luta desse homem

Que por matar no povo a fome

Desagradou o estado

Um governo arbitrário

Que em seu dicionário

Não consta Humanidade

Só truculência a valer,

Entendeu que Zé Lourenço

Não fosse um penitente

Um Beato e líder nato

E sim, alguém que ameace

Os alicerces do poder.

O governo assim pensando

Não mataram aquele homem

Pior, mataram os seus sonhos

Sem, revide, arma ou mentira...

Só por construir o seu nome

No que reza a santa escritura

Exercendo a agricultura

Para uma justa partilha

José Lourenço nasceu

Quem sabe, fora de época

Onde a república imperava

E o latifúndio era a Lei

Que negava àquela grei

Viver digno e altaneiro...

Zé Lourenço não se curvou,

Ao seu povo ensinou,

A oração e o ofício

Como ensinou Padre Cícero

Foi Zé o mais fiel discípulo

De Antonio Conselheiro

Caldeirão a mais negra página

Da história do Ceará

O massacre de um povo

Que só buscava algo novo

Sem mais ter que mendigar...

Foi em numa coletiva vala,

Quatrocentos sepultados,

Estão seus sonhos enterrados

Caso alguém queira lembrar!

Viu-se enterrado os sonhos

De implantar-se a justiça

Naquela terra sofrida

E a dor de suas feridas

Deva agora nos perturbar...

Zé lutou para que seu povo

De fome, jamais morresse

E que a paz florescesse

Em seu pequeno lugar

Naquela carnificina

Ataque por baixo, por cima

Até gestantes morreram

Adultos e velhos pereceram

Crianças assassinadas

Sem direito de defesa,

É algo inaceitável

Vergonhoso, vil, insano

Que aquele fato desumano

Em nossa memória esteja

Analisando esse fato:

Por cima o ataque aéreo

Por terra, tropas do exército

Uma verdade tão crua

Revolta-me só em lembrar...

Imaginem agora vocês

A reação do camponês

Em toda aquela agitação

Vôo rasante de avião

E bombardeio profundo

Para alguns, o fim do mundo

Que Zé vivia a pregar

Zé escapou do massacre

Mas selou a sua sorte

Para não ver sua morte,

Ele fugiu para o Exu

Quando aos 74 anos

Morria de peste bubônica

Foi-se a vida messiânica

Daquele grande guerreiro...

Devido seu belo legado

Multidão de flagelados

Levou Zé e o sepultaram

No cemitério em Juazeiro

O lema daquela comunidade

Trabalho, Religião e Igualdade

Se constitui na verdade,

Tudo o que hoje o mundo quer...

Foi o sonho daquele beato

Um analfabeto letrado

Na agricultura formado,

Foi mais que um Chanceler

Acabou-se o Caldeirão

Aquela vila agrária

De gente humanitária

Simples povo sertanejo

Que dessa vida só quis:

“Viver de forma diferente

Sem grilhões, cangas, correntes

Ou qualquer escravidão

Viver como um cidadão,

Enfim, um povo feliz!”

Em cada um daquela gente

Em cada corpo sepultado

Naquela vala abandonados

Daquele tórrido sertão,

Gera uma grande angústia

Neste poeta que sente

A dor de cada penitente

Massacrado em Caldeirão

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NOTA: Uma simples homenagem deste poeta, aos mortos na Vila Caldeirão. Que os poderes e as classes dominantes de hoje, promovam uma justa reparação, pela injustiça praticada no passado, contra um povo pacífico, produtivo, humanitário e seguidor dos princípios sociais e religiosos, como foram os penitentes daquela vila agrária, que tanto exerceu a cidadania e promoveram a paz que todos buscam hoje.

Poeta J. Pinheiro,

Do seu livro “Meus versos, minha vida”

Poeta J Pinheiro
Enviado por Poeta J Pinheiro em 30/08/2012
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