Desabafo de Roceiro
DESABAFO DE ROCEIRO
Seu dotô da capitá
Que visita o meu sertão
Queira uví cum atenção
O que esse matuto fala
E adispoi de minha fala
Me dê lá sua opinião
Seu dotô de cademia
De tanta mitulugia
De sabença comprovada
Sabe tudo de ciênça
De curtura e de crença
E de política partidara
Conhece bem o seu mundo
Mai o meu, nem avalia
Quanto sofre essas famia
Do meu sofrido sertão,
Trabaiando o dia inteiro
Sem saúde, sem dinheiro
Iscruídas do pogresso
Desse nosso maranhão
Cuma pensa os governante
Qui mora na capitá?
Inté parece qui nosso voto
Lhe fizero muito má!...
Adispoi que são inleito,
Só oiam pro latifundo
Só arrepara o seu mundo
Nun sabe nada de cá!
Se sabe, faz qui num sabe
Se vê já faz vista grossa
E só vem em nossa paióça,
Pro nosso voto pidir...
E adispoi iscapulir
Ajudar num é seu negócio
E bota logo em seus prano
Só no prauso de quatro ano
O seu dotô vorta aqui
E assim, noi vai sofreno
Toda sorte de misera
Isso vem de tantas era
Essa grande ingratidão...
Noi vendeno por pataca
O que eles come na praça
Isso sim, é que é desgraça,
Isso sim, é iscravidão!
E de tanto sofrimento
Pelos farços juramento
Dos mandão lá dos palaço
Adonde veve a gumvernar
Nói veve nessa esparrela...
Num pau de arara ou de pé
O pobe sai todo dia
Do sertão cum a famia,
Pra morar na tá favela
Assim o sertão perdeu
Mai um querido fio seu
Que toda sua fé perdeu
No seu sofrido sertão...
Partindo para cidade
Sai ele cum a fiarada
Pedindo fé e corage,
Ao Padim Ciço Romão
Inda vai resignado
Sem revorta, confoimado
Como manda a sua crença,
Consigo o caboco pensa,
Tem vida bem mai sofrida...
Toda essa sua indigença
Foi Jesus que quis assim
Cuma dizia o Santo Padim,
E assim que ele aquerdita
Nói num intende de política
Nói num foi politizado
O qui nói só intendemo
É qui tamo sempre sofreno
Doente e agregado...
Curpano por nossas mazela,
A quem nada tem com ela
Os qui recebe o nosso voto
Num sente nium rimorso
Roba nói e o estado
Eis aí uma visão crítica
Pra você que ainda acredita
Em promessas e propostas
De quem só anda lá na roça
Com objetivo eleitoreiro...
Receba esta homenagem
Deste poeta eleitor
De injustiças recebidas
Desses políticos parasitas
Jesus Tavares Pinheiro.
Poeta J. Pinheiro
Do seu Livro "Meus versos, minha vida"