POETA RAÍZ

POETA RAÍZ

Um poeta não se faz

Poeta já nasce feito

Bastam as escovas da vida

Para limpar o seu limo

Deixando-o reluzindo

Tirando os seus defeitos

Existe por trás do lodo

Encrustrada a bela sina

Um valioso tesouro

De inspirações e de rimas

Tudo é motivo pra versos

Tudo enfim o faz rimar

Basta só um simples tema

Sem regras, sem teoremas

No cérebro de um poeta

Acumula grande mescla

De rimas a saltitar

Nesta linhagem poética

Tem versos de todo jeito

Tem versos de pé quebrado

Que considero imperfeito

O verso feito com rima

Esse sim é verso bem feito

Essas poesias modernas

Não fazem minha cabeça

Uma poesia sem rima

Um cordelista não assina

O seu íntimo não aceita...

É igual a vitória sem mérito

Um atraso, um retrocesso

Presente sem que se mereça

Sou um poeta da roça

Foi da roça que eu saí!

Vim do saco da pedra branca

Um sítio próximo a porteiras

Foi lá que uma parteira

Me pegou quando eu nasci

Não posso escrever direito

O que não sai do meu peito

Aquilo que não vivi,

Não conheço, nunca li,

Abomino essa esperteza...

Por isso, escrevo tão simples

Como simples é a natureza

Mas, nada neste velho mundo

No sentido mais profundo,

Se compara a sua beleza!

Eu sou fruto do pequizeiro

Sou da flor do trapiá

Sou da fiapo da manga

Sou do caroço da zamba

Sou da raspa do jucá

Eu sou do favo da Cupira

Do fino mel da mandassaia

Sou da casca da imburana

Sou do rolete da cana,

Sou eu, do pau da cangalha

Sou dos arreios do vaqueiro

Perneira, chapéu, gibão

Sou badalo do chocalho

Sou da cinza do boralho,

Das fogueiras de são João

Não vou sair desse tema

Não conheço outro sistema

Pra eu fazer poesia boa

Não preciso de diploma

A farta matéria prima,

A mãe natureza me dá...

Basta eu olhar pra uma serra,

Um vale, uma floresta,

Um passarinho a cantar,

Logo cumpro a doce sina

Da inspiração faço o verso

Com a beleza da rima

É tão fácil esse processo,

É assim que sei rimar

Minha poesia só cheira

A flor de maracujá

Só tem gosto de meizinha

Da flora medicinal...

Pendão do canavial

Sabor do ariticum

Da rama do gerimum,

E da massa do jatobá

Pra fazer verso bonito,

Eu não cometo delito

Nunca usei de artifício

De escrever o que não vivi,

Sou um poeta exemplar...

A minha poesia é pobre

Mas a sua essência é nobre

E se você analisar,

Escrevo sobre a minha terra,

Meu cantinho, minha gente,

Que não é tão diferente,

Da gente simples de cá

A minha poesia explora

O sofrimento, a inglória

Do excluído em seu penar...

O conterrâneo esquecido,

Humilhado e banido

Socado nos escondidos,

Do sertão do ceará

Por isso a minha cachola,

Só guarda em sua memória,

Temas pra versos tristes,

Em muito de minhas rimas...

É que me faço porta - vós,

Da minha gente sofrida

E a dor de suas feridas,

Doem mais que se imagina

O repertório de temas

De um poeta popular,

É tão grande, é impossível

Que se possa enumerar

Eu garanto pra você...

Se ainda mais dez vidas

Tivesse eu pra viver,

Não sofreria o dilema

De me faltar um só tema

Para um bom verso escrever

Estes versos tão singelos

Finaliza por aqui,

O poeta de porteiras

Região do cariri

Procurei caro leitor

Ser autêntico e verdadeiro

Pois fui menino educado,

Por meus pais bem doutrinado

Para ser um homem ordeiro...

Sou hoje, um homem de sorte

Cantando as plagas do norte,

O poeta J. Pinheiro

Poeta J Pinheiro
Enviado por Poeta J Pinheiro em 26/08/2012
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