Imagem do Google / sorria.com.br


CAPIAU SONHADOR
 
 

1 Com tantas modernidades,
sei somente que levito
e, apesar do mundo grande,
vivo num mundo restrito,
com meus sonhos, indo além,
lá para além do infinito.
 
 

2 Meus ideais são graúdos,
até com braços pequenos.
Só de posse destas pernas,
cavalgo os corcéis serenos;
vou por planetas afora,
nos passos dos teus acenos. 
 
 

3 A versejar-te constante,
dos teus carinhos o vate,
teu menestrel, trovador,
sempre d’amor no combate,
com minha viola às mãos
e os mais cordéis de quilate.
 
 

4 Volvendo às modernidades,
de banda pondo ideais,
assumo ser um campônio
de um romantismo demais,
que se sabe apaixonado,
dando lições aos rivais.
 

 
5 Diverso dos modernosos,
inda serenatas canto,
ouço músicas de fossa,
canto destas outro tanto
e envio pra namorada
declarações de acalanto.
 

 
6 Amante às modas antigas,
faço trovinhas de amor,
flores mando a ti, amada,
sem mais e nem menos pôr.
Assim, matuto romântico,
sou o capiau sonhador.
 
 

7 Sendo o caipira que sou,
não boto a carroça à frente
dos bois, e não boto, não!
Meu gostar é paciente:
a lebre espero nos campos,
dou-lhe botes de serpente.
 
 

8 Os amantes modernosos,
ao contrário dos antigos,
de uma vez já querem tudo.
Só reparam nos umbigos;
sem o amor ficar de vez,
confundem figas com figos.
 
 

9 Sonhador, contigo sonho,
sonho sempre d’olho aberto,
pois amo d’amor constante.
Um romântico desperto,
mesmo sendo um capiau,
vai amar bem mais, decerto.
 

 
10 Tudo sem pressa qualquer,
tudo sem açodamento,
que rejeito o modernoso.
O amor, no justo momento,
este pega e vai, de vez,
quem sabe, dá casamento.
 
 

11 Um bem, romanticamente,
ensina a ter paciência.
O gajo que assim namora
já ganhou certa ciência,
ao invés de um tal d’agora,
que da cama faz essência.
 

 
12 Cama, sexo, tudo a tempo,
depois da cumplicidade
do par que já se enamora.
Primeiro, sentir saudade;
por fim, corpos enlaçados,
dois amantes com vontade.
 

 
13 Digam que sou démodé,
não me dói ser rotulado;
sei lidar com burro brabo,
não temo um zebu cevado,
pois, capiau sonhador,
versejo sem ser letrado.

 

Fort., 20/08/2012.
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 20/08/2012
Reeditado em 20/08/2012
Código do texto: T3840393
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.