Lembranças da infância no interior
Forró, só de pé de serra
Café, pilado em pilão
Xerém moído na pedra
Prefiro peru a capão
Canjica do outro dia
Queijo na brasa e pirão
Quadrilha, só na escola
Na festa de São João.
O carro de minha infância
Foi mesmo o caminhão
Um tocador de sanfona
Luiz o rei do baião
Cocada de coco queimado
Um padre, Frei Damião
Visitava minha casa
Era como nosso irmão
Rezava novena em maio
Juntava uma multidão
A vida no interior
Parecia escravidão
De manhã um esplendor
De noite uma escuridão
Debruçada eu na janela
Curtia a solidão
Menino brinca na rua
De bola de gude e pião
Corrida de bicicleta
Foguete e avião
Empinar pipa ou papagaio
Essa era a diversão
Menina brinca em casa
De boneca ou de casinha
Pega-varetas ou bingo
Borda costura e cozinha
Pra crescer moça prendada
De invejar a vizinha
Quando eu era pequenina
Tinha uma pitombeira
No quintal de minha casa
E eu subia de bobeira
Cantava música bem alto
Pra espantar tanta lezeira
Eu era muito inocente
Não conhecia a maldade
Não conhecia tristeza
Era coisa da idade
Vivia perambulando
Só tinha felicidade
Minha família tão grande
Gente que não acaba mais
Eram dez somente filhos
Doze com nossos pais
Sem contar primos e primas
Amigos e animais
Assim passei muito tempo
Imersa nessa ilusão
Sonhava com o meu príncipe
Fazia adivinhação
Encontrei o meu amado
O nome dele é João.