SIMPLES SENTIMENTOS.

Falo do simples, do manso.

Falo leve, bem razo.

Beirando quase um cuchilo.

No avermelhar do ocaso.

Falo da terra morna e macia.

Que aninha a planta no vaso.

Falo de um simples "bom dia"

De uma timidez franca e terna.

De um caboclo galante.

Com matutice governa.

O gracejar do sotaque.

Versando rima eterna.

Falo do simples que há.

Na vida do vilarejo.

Da procissão da igrejinha.

Que se arrasta em cortejo.

Com suas santas e santos.

Num cultuar sertanejo.

Falo da simples casa enfeitada.

De palha e bandeirinha.

Um burbulhar incessante.

Se ouve nela todinha.

Fervendo gordas pamonhas.

Nus caldeirões da cozinha.

Não falo dos monumentos.

Das capitais que eu vejo.

Mais falo do que eu sinto.

Quando escuto um lampejo.

De notas simples cortantes.

Tocadas num vialejo.

Falo da lenha seca do angico.

E do melaço da cana.

Do "zum zum zum" sem parar.

Da abelha italiana.

Que faz o mel em segredo.

No oco da umburana.

Meu simples verso só fala.

Do cume da cumieira.

Da carne assada na brasa.

E da cigarra altaneira.

Cravada no pau da estaca.

Cantando á tarde inteira.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 14/08/2012
Código do texto: T3830353
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