De repente, Luís Bel, o repentista
Da Terra, da Serra
Onde a plantação prospera
Nada lhe faltava que não fosse nada
Costumes com sacrifício
Lavrador, seu ofício
Sertanejo corajoso
Não havia riqueza no mundo
Pra lhe fazer ser
Um qualquer invejoso
E de repente
Um repente de Luís Belo Cordeiro
Conhecido como Luís Bel
Da Serra Ibiapaba
Bem perto do céu
Trabalhador e matreiro
Já correu atrás de gado
Agora, no Sítio São Roque
Ele vive sossegado
Filho de Francisco Belo Cordeiro
E de Gonçala Rodrigues
É recordista na região
Pelas viagens que fez
Viajou muito
Pra ganhar dinheiro
Deixando sua terra querida
Pra então se aventurar
Na cidade do Rio de Janeiro
Quando se retirava
Nada tinha no dia a dia
Para a passagem
Somente o dinheiro
No ônibus, seguia contando suas “doidiça”
Contudo, nas viagens se divertia
Viajava cantado e divertindo o povo
Se oportunidade tivesse
Faria tudo de novo
Até chegar ao Rio de Janeiro
Com seu carisma, ganhava dinheiro
Assim, lhe rendiam alguns trocados
Pois na viagem demorada
Animava as pessoas
De maneira muito humorada
Pra ele, o remédio era cantar
Se alegrava e curtia
E alguém lhe pagava pra almoçar
Com a idade de 10 “ano”
Aprendeu a fazer repente
Admiração de muita gente
Não era um meio de vida
Um violão bem afinado
E ele cantando, interessado
Com o seu irmão Pedro Bel
Era mesmo um dom divino
Uma inspiração do céu
Contava causos interessantes
Com temas da cidade
Do campo, e pessoalmente
Rodeado de jovens e velhos
Comentava até sobre o evangelho
No povoado, sempre foi querido
Plena interação com a criançada
Assim promovia diversão
No banco da praça ou na calçada
Era divertido o pessoal ouvir
Tudo que ele queria contar
Simples, brejeiro e interessante
Ele falava sem escrever
Virou figura popular de repente
Gente de longe passou a lhe conhecer
Com seu jeito matuto de ser
Querido e respeitado
Agricultor humilde e admirado
Nas “budega”, encostado nos “balcão”
Na feira ou nas festas do povoado
Foi se transformando em atração
Todos queria lhe ouvir com atenção
Sempre tinha pra contar, uma boa novidade
Dia de Domingo na Praça da igrejinha
Durante ou depois das meditações e da ladainha
Assim Luis Bel, criativo e bem humorado
Sorria e se divertia pra mais de um bocado
Era mesmo belo a sua conversa
E nos fins de tarde, sem pressa
Bem na hora daquele cafezinho
Torrado e pisado no pilão
Tinha que ter os causos de Luis Bel
Á sombra de um Jatobá, pra afastar a solidão
No alpendre, no caminho da roça
Sentado em um tamborete
Ou à beira do riacho ou na palhoça
Ele mesmo declarou
Que nunca estudou
Mas era dotado de saber
Um autêntico artista do campo
Aos jovens, proporcionava lazer
Em tempos diferentes
Esse talento jeca, ele amostrou à muita gente
Aprendeu de cabeça a poetizar
Através da cultura popular
DEPOIMENTOS DO PRÓPRIO LUIS BEL
“Vou lhe contá um causo
De uma moça e um rapaz
Um causo refém de quê
Deu-se em Minas Gerais”
Ô leitô preste atenção!
O amô falso, o que faz?
Tanto é triste o resultado
Da moça que ama dois
Pode amá outro depois”
Assim também o rapaz
Não queira sociedade
Só empregue o seu amô
Onde encontrá lealdade
Não é feliz quem ama com falsidade
“__Aprendi pela minha cabeça, nunca estudei”
(Luís Bel)