Força do destino

Nasci com dom de poeta

Deus me deu a vocação

Faço verso de improviso

Sem a menor preocupação

Portanto não sou perfeito

Se eu errar, peço perdão

A estória que vou contar

É obra de ficção

Tirado da minha mente

Por pura imaginação

Se houver caso idêntico

Eu não tenho culpa ,não

Uma moça do interior

Pensava no luxo e riqueza

Casar –se com um príncipe

E levar vida de princesa

Pra dar o golpe do baú

Pra ela seria moleza

Como era muito linda

Sabia da sua capacidade

Para conquistar um rico

Era uma facilidade

Os boizinhos da cidade

Conheciam essa verdade

Eles sabendo das intenções

Da mocinha interesseira

Ficavam com ela apenas

Por aventura passageira

Davam-lhe alguns amassos

E escapavam da ratoeira

Até que um dia apareceu

Na cidade um forasteiro

Contando a maior vantagem

Que era filho de fazendeiro

Dirigindo uma linda carreta

Um exímio carreteiro

Na hora ela pensou:

Agora chegou meu destino

Esse moço apareceu

Pela obra do divino

Agora mesmo eu vou

Conquistar esse menino

Assim que ele a viu

Começaram a namorar

Logo ficaram noivos

E marcaram para se casar

Ela fingia estar apaixonada

E ele fingia acreditar

E o tal dia esperado

Tão depressa aconteceu

Ela toda enfeitada

Esperando o seu Romeu

Os convidados esperando

E o cara não apareceu

Esperaram mais de uma hora

E nada dele aparecer

Os padrinhos e os convidados

Não conseguiam entender

Ela desesperada

Não conseguiu se conter

Envergonhada pediu

Desculpas aos convidados

Seu pai homem valente

Ficou tão mau humorado

Pode ser que algum acidente

Com o moço havia se dado

Todos saíram da igreja

Com pena da pobre coitada

E o tempo se passou

Ninguém mais falava nada

Nenhuma pista do carreteiro

Evaporou-se na estrada

E barriginha da moça

Começou logo crescer

Ela fazia de tudo

Para tentar esconder

Se o seu pai descobrisse

Ela sabia o que ia acontecer

Seu pai homem rude

Nascido no sertão

Naquele tempo do onça

Um povo sem instrução

Mãe solteira para eles

Era obra do cramunhão

Assim que ele descobriu

Sem menor piedade

Expulsou a filha de casa

Meu Deus, quanta maldade

A coitatinha ficou

Perambulando na cidade

Ela batia de porta em porta

Pedindo pra trabalhar

Mas aquele povo rebelde

Recusavam a ajudar

Davam-lhe um prato de bóia

E mandavam a andar

A pobre da moça

Muita fome e frio passou

Ela comeu o pão

Que o próprio diabo amassou

Até que um dia na estrada

A dor do parto chegou

Ela conseguiu ter o bebê

Sem ajuda de parteira

O cordão umbilical

Ela cortou feito enfermeria

Guiado pela mãos do mestre

E da santa padroeira

Ela deu a luz um varão

E num pano o enrolou

Deixou- o no meio da estrada

A única forma que encontrou

Rezando para que alguém

Cuidasse do que ela gerou

Porque ela sozinha

Não tinha menor condição

De cuidar daquele neném

E chorava pedindo perdão

Para que alguém o encontrasse

Encontraria a solução

E saiu chorando e implorando

A Deus, nosso Senhor

Que passasse por alí

Um espírito salvador

E levasse o menino

E o cuidasse com amor

Como Deus é poderoso

A sua prece escutou

Lá vem um carreteiro

Ao ver o vulto, parou

Desceu da sua carreta

E o menino pegou

Cobriu com um cobertor

E para o hospital se mandou

Voando com sua carreta

Nem farol respeitou

O médico competente

Daquele anjo cuidou

O carreteiro era solteiro

Deu para sua mãe cuidar

Ela cuidava do menino

Como uma avó exemplar

E o carreteiro pelo Brasil

Continuava a viajar

E mãe do menino

Vivia a perambular

Chegou a perder o juízo

De tanto imaginar

Alguém caridoso colocou

Numa clínica para se tratar

E o menino foi crescendo

Muito esperto e inteligente

Era orgulho da família

Educado e obediente

Logo estava mocinho

O tempo passou rapidamente

Seu pai muito econômico

Conseguiu juntar dinheiro

Vendeu a sua carreta

E comprou gado leiteiro

E também uma fazendinha

No triângulo mineiro

O seu pai adotivo queria

Que ele fosse formado

Fizesse faculdade

De engenheiro ou advogado

Mas o moço insistia

Ser carreteiro viajado

Seu pai não quis contrariá-lo

Uma carreta lhe comprou

E toda a sua experiência

Para o moço ele ensinou

E também toda verdade

Para o moço ele contou

Meu filho chegou a hora

De você saber a verdade

Até hoje não tive a coragem

Temendo uma barbaridade

De você não entender

E eu perder sua amizade

Eu não sou seu pai verdadeiro

Sou seu pai adotivo

Mentia que sua mãe

Havia falecido

Agora que já é moço

Tudo fica esclarecido

Eu o encontrei numa estrada

Jogado no meio do caminho

Levei para o hospital

E cuidei de você direitinho

Cada dia que passava

Aumentava o meu carinho

Por favor, não culpe sua mãe

Talvez ela fosse forçada

Não tendo condições de cuidá-lo

Deixou-o no meio da estrrada

Somente em pensar nisso

Me dá pena da coitada

Ele ouvindo esse relato

Lágrimas dos olhos derramou

E o seu pai fortemente

Ele o abraçou e o beijou

E disse: você é um herói

Meu amor por ti aumentou

E o moço com a sua carreta

Começou a viajar

Tudo o que seu pai lhe falou

Ele não parava de pensar

Alguma coisa lhe dizia

Que um dia ia encontrar

Sua mãe biológica

Para poder lhe abraçar

E porque lhe abandonou

Ela tinha que explicar

Conforme fosse o motivo

Ele saberia perdoar

E de repente uma mulher

Bem no meio da estrada

Fez sinal para parar

Ele viu que era coitada

Estava toda maltrapilha

Com roupa suja e rasgada

E lhe pediu uma carona

Ele mandou ela subir

E no caminho conversando

Ela jurou não mentir

Enquanto ela contava

Ele atento começou a ouvir

Moço, eu namorei

Um moço lindo carreteiro

No começo eu pequei

Pensava só em dinheiro

Ele me deixou no altar

Eu caí no desespero

Aí eu vi o quanto eu o amava

O dinheiro não tinha mais valor

Por ser interesseira

Fui castigada pelo nosso Senhor

Meu pai me expulsou de casa

E eu perdi um grande amor

Meu pai homem rude

Criado na lei do sertão

Mãe solteira para ele

Era obra do cão

Me enxotou da casa

Sem a menor compaixão

Minha mãe não concordou

Mas não pode fazer nada

Se ela me apoiasse

Também seria tocada

Conhecendo bem meu pai

Resolveu ficar calada

O moço atentamente

Ouvindo aquele relato

Freou a sua carreta

Ficando estupefato

Percebeu que o destino

Não foi assim tão ingrato

Abraçou aquela mulher

E chorando exclamou:

Só pode ser minha mãe

Pelo que meu pai contou

Quero que você conheça

O herói que me criou

E voltaram para a fazenda

Ao ver aquele senhor

Ela o reconheceu

Estava alí o seu amor

Tornaram a se encontrar

Por obra do criador

Quando o homem viu a mulher

De susto, desmaiou

Ao recobrar o sentido

Depois que muito chorou

Explicou por qual motivo

No altar ele a deixou

Eu te amava loucamente

Pretendia contigo me casar

Fui um fraco incoerente

Tolo em acreditar

Que era só por interesse

Vieram me contar

Depois eu me arrependi

Mas aí já era tarde

Preferi me ocultar

Com um homem covarde

Portanto fiquei sozinho

Até hoje meu peito arde

Se abraçaram e se beijaram

Como dois adolescentes

O jovem vendo aquilo

Se explodia de contente

E marcaram na igreja

O casamento novamente

Desta vez ele não fugiu

Ela também aprendeu

Que amor é mais importante

O maior dom que Deus nos deu

E ele sem saber de nada

Criou o próprio filho seu

O destino foi caprichoso

Após tanto sofrimento

Teve um final feliz

Fizeram um belo casamento

E ela engravidou novamente

Breve virá outro rebento

P-eço perdão ao leitor

I-rritado ficou com o meu conto

N -ão sou nenhum profissional

T-em me dar um desconto

A -migo sou um matuto

E-u me sinto as vezes um tonto

T-ento agradar a todos

A-í é que levo tombo!