“LOUCO SIM, CADUCO NÃO”.

Valdemiro Mendonça

Via com olhos fechados,

O sol brilhante de magia,

Os raios do sol apagados

Brilhava nas trevas do dia.

Lua cheia aviões lotados,

Americano lá não descia.

O homem cego por certo,

Via a sua vista existente.

Um olho seco outro incerto,

No jardim bastante silente

Sem som parecia deserto,

Cheio dos gritos de gente.

Sentou no banco cimentado

E feito com madeira corrida,

Em silencio e o lábio cerrado

Filosofa a sua causa perdida,

Diz com boca fechada calado...

Antes morrer que perder a vida.

E enquanto isto lá no plantão

O doutor dava pronto socorro,

Diz, quero para ele a salvação,

E ele está querendo que morro.

Vou tirar cérebro e o coração

Vou colocar outro de cachorro.

Se for morto que ele quer ver,

Do coração espero que goste,

Nem faço questão de receber

Mas por favor, nisto não aposte,

Vai erguer a perna e contorcer,

Até aprender a mijar no poste.

Aí chegou uma linda velhinha,

Mais feia do que fazer um trato.

O doutor perguntou sua idade

Apaguei cento três velas é fato,

Cento e três minha irmandade?

Isto antes, agora cento e quatro.

Mas a senhora veio de bicicleta,

Qual o mal que senhora sente?

Uma dor de barriga que aperta.

Quantos quilos pesa a doente?

Mil! Mas mil quinhentos é a meta,

A barriga inchada é indecente,

Por isto vim aqui, ô boca aberta.

Diz o doutor, já é a folga minha,

Senta e espere, volto depressa.

Ele sumiu da sua grande salinha,

Diz vou onde não lhe interessa.

Aí que apareceu o fantasminha,

Assombrando e pedindo pressa.

No meio da sala fez um deslize

Pergunta, já viram alma pelada?

A velhinha diz vi e sofri uma crise,

Não a pelada, vi a alma penada.

Agora velhinha eu faço strip-tiase,

E vai ver da alma só uma ossada.

Ficou ali dançando e exibindo

A velha com barriga crescendo,

O doutor sumido ela já exigindo

Cadê o bom que não tô vendo?

Ela diz com o tempo foi sumindo,

Acho que acabou apodrecendo.

Continuou com a longa prosa,

E a noiva esperando lá no altar.

Ela chorava chateada e furiosa

Por causa do noivo se atrasar,

O padre falava: calma gostosa,

Este sacana ainda vai chegar.

Ela ia até a porta da catedral

E voltava de cara amarrada,

Tem muito mais de duas horas,

Que esta merda ta atrasada,

Eu estou com a frigideira acesa

E a linguiça ainda enrolada?

Ó se continuar desta maneira

Com este noivo dando fricote,

Eu acabo é fazendo doideira,

Não vou aguentar sem picote,

Eu vou é dormir lá na sacristia

E tentar comer um sacerdote.

O cego vendo tudo calado

Dizia: tudo quase se acaba,

A mulher de vestido azulado

Chama-se Jeane e é braba,

Saio deste banco plastificado

E me mudo lá para Uberaba.***

Ela tem chácara e o milharal,

É tamanho duma fazendinha,

Não fosse pequeno o quintal

Dava até pra criar as galinha,

Que saber, serei bem informal,

Peço pra Jeane uma ajudinha.***

Nisto se foi a tal assombração,

Chegou o doutor que foi folgar,

Já chegou pedindo a atenção

Velha gorda na fila com o par,

Ela diz cara, se liga meu irmão,

Aqui só tem eu para consultar.

Está certo eu já vou receitar,

Dou remédio do ambulatório,

Tome vinte litros de purgante

Dez quilos de cutieira Ozório,

Trinta litros de leite magnésia,

Coloca dezesseis supositório.

A senhora vá ao banheiro,

Tome tudo de uma vez só.

Põe o supositório primeiro,

Depois saia levantando pó

Monte sobre seu pedaleiro

E só pare lá no borogodó.

Ela bebeu todo o purgante,

Supositórios foram moleza,

Em cima da sua pedalante,

Disparou é fazendo proeza,

Sua casa era na montanha

E que ficava na redondeza.

Foi subindo a pedranceira

E a barriga ficou revirando,

Chegou lá no alto da pedreira

Os gases já estavam forçando,

Ela já arriou as calças ligeira

De uma vez só ela foi soltando,

A massa fedida da caganeira.

Enquanto isto a noiva tarada

Xingava o coroa e o sacristão,

Podem ir atrás do meu noivo,

Porque esta e sua obrigação

Se a noiva não se casar hoje,

Sacerdote vai virar garanhão.

Nesta hora o pobre do padre

Diz não há padre que mereça,

Vou lhe dar conselho comadre

Guarde bem não se esqueça,

Pois mulher que come padre

Vira é uma mula sem cabeça.

Na história o senhor não apita

E digo que tem problema não.

Vai só aparecer nós dois na fita,

Sou mula e o padre é garanhão

Se eu ainda tiver uma periquita,

E o senhor sacerdote tiver tesão.

Pobre cego acabou dormindo

Sentindo uma friagem lascada,

No banco feito de bronze polido,

Ele deu uma longa cochilada,

Mas ele acabou tirando a roupa

Pois a noite estava esquentada.

Dormiu sonhando acordado,

A chuva forte e caia pesada,

Aí vestiu sua roupa bem seca

E que estava muito molhada,

Sentou naquele banco de aço

No sol quente da madrugada.

Mas quando a velha afrouxou

É que se deu aquele vexame,

Ficara dez anos sem defecar,

Comendo arroz com inhame.

Quando ela cismou de largar

Ela provocou a tal de tsunami.

Foi lá no Rio Grande de Sul,

Bem partinho de Juazeiro.

Abriu o Oceano Atlântico,

E destruiu a África primeiro,

Para na desmentir a história

Ela reabriu o mar vermelho.

Corredor da mesopotâmia

Ficou todo sujo catingando,

Bosteou lá o Oriente médio,

Lá na Índia foi destroçando,

Caxemira e o Cazaquistão

Ainda hoje ta se melecando,

Rússia esquentou a Sibéria

Depois de arrasar o gabão,

Havaí estado improdutivo

Já tem esterco de montão,

Mas o estrago é muito maior

Foi bem na costa do Japão.

La arrancou tanto edifício

Arrasou as usinas nuclear,

Destruiu fábrica de veículos

Fez o belo país se atrasar,

Mas nada que atrapalhe

Pois o povo sabe trabalhar.

Enquanto isto, pobre noiva,

Desistiu do tal pretendente,

Pegou o sacerdote a força

Disse você é meu nubente,

O padre largou sua batina,

E aceitou ser um penitente.

Vinte e um anos se passou

Noivo chegou sem matula,

Ela era mula sem cabeça,

O padre cabeça sem mula.

Tinha vinte netos perfeitos,

Filhos da Mariza e do Lula.

E o cego no banco sentado

Banco de lona feito de cobre,

Dos quatro malucos sarados

Ele era o doido mais pobre,

Dizem que a assombração

Era dos doido o mais nobre.

O doutro era a assombração

Ele sumia ela logo aparecia,

E com isto ficou na perdição

Toda a sua ótima freguesia,

Até retirei minha aprovação

Do tal hospital de psiquiatria.

Sobrou o cachorro operado

Dificuldade que estou tendo,

Levanto a perna erro o poste,

Quero e ele não tá querendo

Mas já acertei quatro vezes,

Aos poucos vou aprendendo.

Se outro macho tiver mijado,

Chego dou uma cheiradela,

O cheiro ta ali bem postado

Mijo em cima pra apagadela,

É de fêmea, mijo bem do lado,

Pra ficar junto do mijinho dela.

Maluco faz muita maluquice,

Sentindo as dores indecentes,

Mas ainda não e caduquice,

É apenas dias de padecentes,

Voltarei a escrever bem direito,

Logo que eu colocar os dentes.

Trovador.

Interação da poetisa Graça Vieira, obrigado.

Sou maluco posso dizer

aqui agora descrever

a arte de ser gente

você precisa saber

alegria contagia

o que vou reviver.

Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 08/08/2012
Reeditado em 19/09/2012
Código do texto: T3819936
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