A VOZ DO SERTÃO.

Vôcê já pôde escutar.

O assovio do vento.

Zunindo bem rente ao solo.

No descampado relento.

Ouvindo um chocalho rouco.

Tocando longe em alento.

O chiadeiro saudoso.

Das cascas sêcas inteiras.

Colhidas e debulhadas.

Pelas debulhadeiras.

Jogando as cascas no chão.

E os grãos em umas peneiras.

Escutou o rangir da cancela.

E o "glu glu glu" de um piru cinzento.

E o som que vem da cozinha.

Trazido no sopro do vento.

Num "tum tum tum" de pilão.

Batendo a todo momento.

Já ouvio uma cabocla rendeira.

Que na cadência trabalha.

Tecendo peças de renda.

Um movimento não falha.

Ao toque dos bilros batendo.

Numa almofada de palha.

Já ouvio o bravio vaqueiro.

Na caatinga chamando o gado.

Enchendo o peito de rimas.

Cantando o campo e o cerrado.

É esse o som que ecoa.

Em um aboio inspirado.

Você já pôde escutar.

O barulho de uma trovoada.

Enchendo as fendas da serra.

Parece uma feliz toada.

Cantando alegria e esperança.

Nas águas da enxurrada.

Escuto esses sons ate hoje.

No alpendre da recordação.

Na rêde balanço a saudade.

Que sinto do meu torrão.

Pois tudo isso nasceu.

Do ventre do meu sertão.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 08/08/2012
Código do texto: T3819818
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