A VOZ DO SERTÃO.
Vôcê já pôde escutar.
O assovio do vento.
Zunindo bem rente ao solo.
No descampado relento.
Ouvindo um chocalho rouco.
Tocando longe em alento.
O chiadeiro saudoso.
Das cascas sêcas inteiras.
Colhidas e debulhadas.
Pelas debulhadeiras.
Jogando as cascas no chão.
E os grãos em umas peneiras.
Escutou o rangir da cancela.
E o "glu glu glu" de um piru cinzento.
E o som que vem da cozinha.
Trazido no sopro do vento.
Num "tum tum tum" de pilão.
Batendo a todo momento.
Já ouvio uma cabocla rendeira.
Que na cadência trabalha.
Tecendo peças de renda.
Um movimento não falha.
Ao toque dos bilros batendo.
Numa almofada de palha.
Já ouvio o bravio vaqueiro.
Na caatinga chamando o gado.
Enchendo o peito de rimas.
Cantando o campo e o cerrado.
É esse o som que ecoa.
Em um aboio inspirado.
Você já pôde escutar.
O barulho de uma trovoada.
Enchendo as fendas da serra.
Parece uma feliz toada.
Cantando alegria e esperança.
Nas águas da enxurrada.
Escuto esses sons ate hoje.
No alpendre da recordação.
Na rêde balanço a saudade.
Que sinto do meu torrão.
Pois tudo isso nasceu.
Do ventre do meu sertão.