O PARTO DA PUTA

* * *

Valdemar de Agenor

Cabra decente e honesto

Preservava tais valores

Por ser verdade eu atesto

Mas teve um dia cão

E foi parar na prisão

Por causa de um belo gesto

Quando correu a noticia

Da prisão de Valdemar

Foi tamanha a confusão

Ninguém quis acreditar

Como um homem tão bondoso

Educado e caridoso

Na cadeia foi parar

O Dr. Plínio Sampaio

Ao saber do ocorrido

Ficou tão boquiaberto

E sentiu-se aborrecido

Também não acreditou

Na noticia que chegou

De Valdemar recolhido

Partiu pra delegacia

Ia o caso advogar

E ao chegar lá no Distrito

Do caso foi se inteirar

Indagou ao Delegado

Do que tinha se passado

Com o amigo Valdemar

O sargento Bastião

Delegado da antiga

Relatou ao Dr. Plínio

Que o caso ele investiga

Ia escutar o réu

E que todo esse escarcéu

Foi o parto da rapariga

Dr. Plínio então pediu

Pra falar com Valdemar

O sargento o autorizou

Mandou um cabo o levar

E chegando lá na cela

Vai olhando com cautela

E não quis acreditar

Seu amigo Valdemar

Tava todo estropiado

A roupa toda rasgada

Num corpo todo inchado

Plínio o cumprimentou

Valdemar balbuciou

Apenas, um obrigado.

Me relati o acontecido:

Foi o Dr. lhe falando.

Valdemar disse: pois não.

Ignorância... Engano...

Foi por desentendimento

Desse soldado jumento

Que eu entrei pelo cano

Eu estava passeando

Lá na Praça da Matriz

Quando vi um alvoroço

Bem perto do chafariz

Escutei alguém dizendo

Que ali tava ocorrendo

O parto de uma meretriz

O povo muito assustado

Sem saber o que fazer

Uns dizendo: gente: acode!

“Vamu” a puta socorrer!

Pois então, fui ajudar,

Naquela hora e lugar

A vinda de novo ser.

Uma criança sadia

Mas carente de ajuda

Aquela pobre mulher

Pedido que alguém lhe acuda

Então resolvi lhe dar

Uns panos pra se limpar

E umas fraldas pra muda

Fui até o armazém

E logo, um lençol comprei,

Mais um pacote de fraudas

No bebe, também pensei,

Mas naquela confusão

Eu corri na contramão

Quando o soldado encontrei

Ele me viu com o pacote

E porque eu tava correndo

Segurou na minha mão

E foi me repreendendo

E daí me perguntou

Para onde é que vou

O que quero e o que pretendo

Eu então lhe respondi,

De certo modo, gentil.

Que ia ajudar alguém

Mas ele ficou hostil

Então eu disse: esse pacote

E o lençol é um dote

E vai pra puta que pariu.

E nisso não vi mais nada

Com a pancada que levei

Ainda tentei levantar

Mas, em pensamento, eu sei.

E essa calça cagada,

E a minha cabeça inchada

Só senti quando acordei.

Oliveira do Cordel

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