CACHORRO DE MADAME.(CORDEL)

Cachorro de Madame.

Guel Brasil.

Seu moço eu sou nordestino

Nascido lá no sertão,

Adonde a seca castiga

E açude vira torrão,

Hoje eu vivo na cidade

Por força de precisão.

Criado desde menino

Com pirão de macambira,

Tomando leite de cabra

E escutando a doce lira,

O cantar da zabelê

Saudade que ninguém tira.

Pensei ter visto de tudo

E acabo de saber,

Que o muito que já vi

É pouco pra entender,

Dois cachorros de madame

Tratados como bebê.

Laço de fita na orelha

Com o corpo todo raspado,

Deixaram um tufo de pelo

Num rabo que foi cortado,

Come ração de primeira

E não late, é bicho calado.

É tratado feito criança

Com muito mimo e com zelo,

O bicho até tem doutor

Para cuidar de seu pelo,

Manter o bicho é tão caro

Que pobre não pode tê-lo.

O bicho é documentado

Com registro e identidade,

Nome do pai e da mãe

Local da maternidade,

E um tal de “pedigree”

Que confirma a paternidade.

E custa os “Zoio” da cara

Só sendo rico pra ter,

Ou pobre metido a besta

Que nem tem o que comer,

Entra nessa de cachorro

Pra ter como aparecer.

Pois é esse menino

O mundo endoidou de vez,

Com coisa que vira moda

Que até contradiz as leis,

E cachorro de madame

Deixou de ser pequinês.

Guel Brasil
Enviado por Guel Brasil em 23/07/2012
Código do texto: T3793611
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