CACHORRO DE MADAME.(CORDEL)
Cachorro de Madame.
Guel Brasil.
Seu moço eu sou nordestino
Nascido lá no sertão,
Adonde a seca castiga
E açude vira torrão,
Hoje eu vivo na cidade
Por força de precisão.
Criado desde menino
Com pirão de macambira,
Tomando leite de cabra
E escutando a doce lira,
O cantar da zabelê
Saudade que ninguém tira.
Pensei ter visto de tudo
E acabo de saber,
Que o muito que já vi
É pouco pra entender,
Dois cachorros de madame
Tratados como bebê.
Laço de fita na orelha
Com o corpo todo raspado,
Deixaram um tufo de pelo
Num rabo que foi cortado,
Come ração de primeira
E não late, é bicho calado.
É tratado feito criança
Com muito mimo e com zelo,
O bicho até tem doutor
Para cuidar de seu pelo,
Manter o bicho é tão caro
Que pobre não pode tê-lo.
O bicho é documentado
Com registro e identidade,
Nome do pai e da mãe
Local da maternidade,
E um tal de “pedigree”
Que confirma a paternidade.
E custa os “Zoio” da cara
Só sendo rico pra ter,
Ou pobre metido a besta
Que nem tem o que comer,
Entra nessa de cachorro
Pra ter como aparecer.
Pois é esse menino
O mundo endoidou de vez,
Com coisa que vira moda
Que até contradiz as leis,
E cachorro de madame
Deixou de ser pequinês.