Minha terra, meu xodó

Minha cidade é nordestina

mas é muito singular

quem lê esses versinhos

pode até imaginar

aquela vida severina

que o poeta cansou de falar.

Severina a vida é

em todo canto do Brasil

tudo vai do preto ao azul

nesta terra varonil

ao menos o céu daqui

é azul como jamais se viu.

O dia aqui é mais claro

e, às vezes, é bem quente

outras vezes o tempo fecha

no coração dessa gente

e o dia fica nublado

pesando na nossa mente.

Cidade que começou

como tantas outras então

às margens de um límpido rio

sob o luar do sertão

e com a construção da capela,

lugar de louvor e adoração.

Terra onde havia muitos índios

chamados de Monxorós

dos quais somos descendentes

nós e nossos avós

e que foram dizimados

numa guerra tão atroz.

E foi aqui que eu nasci

nesta cidade, Mossoró

Noutro lugar nunca vivi

nem acompanhada nem só.

Terra pela qual, às vezes,

minha garganta dá um nó.

Terra que expulsou Lampião,

Jararaca e companhia

Terra do meu coração

e de minha moradia

da primeira libertação

dos escravos, alforria!

Mas minha terra inda tá longe

do sonho de meu irmão

Antônio Francisco poeta

daqui dessa região

que sonhou com um paraíso

além da imaginação

Hoje o rio já não é límpido

atingido pela poluição

dos valores deturpados

de sua população

que não entendeu o significado

da palavra preservação

A política então, ainda engatinha

por causa de seus políticos

e sua mente mesquinha

também do povo “carente”

que vende até por farinha

a eleição dessa gente

Muitas vezes o que vemos

são programas assistencialistas

e, de pé, ainda aplaudimos

esses grandes manobristas

tomando uma atitude

simplesmente comodista

Igualmente encontramos aqui

gente, adulto e criança,

engatinhando no lixo,

fome é o nome da dança,

procurando feito um bicho

algo pra encher a pança

A educação tá só nos planos e metas

do banco mundial

ou nas promessas de campanha

do período eleitoral.

Mudam só as aparências,

mas no fundo é tudo igual.

A realidade é bem outra

falta papel, falta tinta

e o professor sempre é culpado

de tudo que dá errado

envelhece antes dos trinta.

A violência das drogas

chegou também por aqui

e o pobre do cidadão

não sabe por onde ir

pra não deixar sua casa

essa assassina invadir.

Contudo, a vida inda é pacata

Na minha cidade querida

Diferente de outras tantas

onde nada mais vale a vida

e as pessoas só andam

numa desenfreada corrida.

Quero a Deus, agora, pedir

que o espírito de liberdade

que outrora pairou por aqui

esteja na mocidade,

a esperança do porvir,

pra mudar a realidade

bem nordestina daqui.

Acaso um dia daqui eu saia

que me deixe o poeta plagiar

ao falar de sua terra

das palmeiras e do sabiá,

não permita Deus que eu morra

sem que volte para cá.

E pra encerrar esses versos

É preciso assim dizer,

Mossoró, que tão bem abriga o forasteiro,

Este erro nunca venha cometer

De deixar um filho seu por derradeiro

Sem trabalho e sem ter o que comer.

Ethel
Enviado por Ethel em 22/07/2012
Reeditado em 22/07/2012
Código do texto: T3791850
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