Um Encontro com Seu Xarute na Feira do Passarão

Das conversas que tive com o ilustre Xarute.

Boa Vista ferve no asfalto

O Sol provoca rachão

É uma chama no Lavrado

Uma fonte de inspiração

Então dou assim início

Para um encontro simplício

Na Feira do Passarão

É manhã ensolarada

E vou saindo cedinho

Cruzando a Praça das Águas

Para encurtar o caminho

Quebro pela Mário Homem

Sigo onde os destinos somem

Chego lá bem rapidinho

Vou de encontro ao amigo

Que tem alma de artista

Um nobre trabalhador

Grande nome cordelista

De bondoso coração

Traz consigo tradição

Encanta nossa Boa Vista

Ele tem o dom da escrita

Que lhe faz enriquecido

Pessoa do nosso povo

Que não se dá por vencido

Inspiração dum corisco

Ele é Alberto Francisco

Por Xarute conhecido

Ao chegar ao Passarão

Dou um abraço no amigo

Faço do bom dia um verso

Presto atenção no que digo

Sei que não fui esquecido

Com festa sou recebido

– Bem vindo seja Rodrigo!

XARUTE:

Nunca mais tinha lhe visto

Bom que você pode vir

Pensei que tinha esquecido

De como chegar aqui

Quero contar uma história

E guarde bem na memória

Coisas boas que vivi

Quero contar pra você

Causos desse meu chapéu

Anote tudo que digo

Pra registro no papel

Esta história é antiga

Da época em que uma cantiga

Se tirava de um cordel

Quando eu era um menino

Meu pai comprava os romances

Ele e minha mãe cantavam

Cada um em cada lance

Foi assim como aprendiz

Que da poesia eu fiz

Minha vida como alcance

Eu ia às feiras e via

Cantadores de viola

Naquele tempo não tinha

Rádio, TV e vitrola

O cordel era cartilha

Pra quem quis seguir na trilha

Era o que tinha n’escola

A vida era muito simples

Mas era também feliz

Nas festas tinha Reizado

Forró, cordel que é raiz

Mas minha vontade era

Viver outra primavera

Conhecer o meu país

E parti do Ceará

Beijei o Acaraú

Guardei todas as lembranças

Dentro de um velho baú

E desenhei meu traçado

Desci o Brasil no lado

E fui ver como era o Sul

Fazendo caminho a pé

Recitei uma poesia

Quando peguei uma carona

Viajei numa cantoria

Conheci muitas pessoas

Sempre deixei coisas boas

Fiz do verso melodia

Das andanças que vivi

Eu tive pouca insônia

Trabalhava pra o sustento

Não tinha “pandemônia”

Pela honra trabalhei

Suor na terra deixei

E vim parar na Amazônia

Em 90 aqui cheguei

E fui para o sul do estado

Em São João da Baliza

Achei lugar adequado

Costumei roça e cordel

Cumpri bem o meu papel

Isso ficou no passado

Comecei contando causos

Que lembrei de antigamente

Histórias do dia a dia

Tudo ficava contente

Farinha vinda da roça

Festa e dança na palhoça

Conversas de nossa gente

Depois vim para Boa Vista

E cheguei ao Passarão

Aqui montei meu comércio

Finquei meu pé neste chão

Tem muita gente d’agreste

Ô povo cabra da peste

De Sergipe ao Maranhão

RODRIGO PIRRITO:

Pois então, meu velho amigo

Nas palavras vá com calma

Pra não correr o perigo

De eu perder essa palma

Peço, não fale ligeiro

“Queu” anoto por inteiro

O que vem de sua alma

XARUTE:

Aqui na bela Boa Vista

Plantei o meu coração

Falo do cotidiano

Lenda, caso e canção

Contos que vêm chegando

No papel vou desenhando

Vou construindo refrão

RODRIGO:

Viesse do Acaraú

Seguindo rumo do vento

Deixasse tudo pra trás

E fizesse novo invento

Vejo quanto dói no peito

A vida tem seu respeito

Cada passo um movimento

De cada passo vem verso

Em cada verso com-passo

Desse canto poesia

Em cada canto que faço

Resolvi cantar a vida

Que descobri escondida

E cada estrofe refaço

XARUTE:

E assim deixo registro

N esse mundo que vim ver

C om a graça de Deus no céu

O tesouro que é viver

N ão deixe a hora passar

T udo tem que caminhar

RO go também por você

R espire cada momento

O dia que sempre levanta

D esperte a sua vontade

R egue e sinta cada planta

I magine o vencer

G rite-a para esconder

O silêncio que espanta

RODRIGO:

E lance o Rei cada cor

X eque mate na cruzada

A rmas vagam galopantes

R ainha está apontada

U m cardeal sinaliza

T orre bem firme avisa

E ncerra mais uma jogada.

Boa Vista do Rio Branco, julho de 2012.

Rodrigo Leonardo Costa de Oliveira
Enviado por Rodrigo Leonardo Costa de Oliveira em 17/07/2012
Reeditado em 01/10/2013
Código do texto: T3782169
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