“DEVANEIO DE PAIXÃO"
Eu vou falar nesse poema
Duma ferrenha paixão
Que pôs no meu coração
Um preso par de algema
É sofredor este tema
Tanto que não encontrei jeito
Para estancar do meu peito
O riacho de postema.
O rastro dessa paixão
Até hoje me acompanha
Desentranhou minha entranha
Desretinou minha visão
Feito bola de sabão
Foi-se embora no vento
Deixou-me no sofrimento
Inquilino da solidão.
Deixou a porta abrida
A cama inda forrada
Na mesa, queijo e coalhada
Nem disse adeus, tô de ida
Até a flor da margarida
Brotada em nosso jardim
Lacrimejou para mim
Por minha dor tão doída.
Dum graveto o rouxinó
Que cantava toda manhã
Percebendo o meu afã
Ficou com um nó no gogó
E hoje eu vivo só
Sendo a melancolia vizinha
E essa minha vidinha
Está de mal a pior.
Até já perdi o freio
Da boleia da minha vida
E capotei na decida
Da paixão do meu devaneio
Meu coração está cheio
De um tum-tum todo torto
Com ela vivi meio morto
Sem ela tô morto e meio.