A MAIS BONITA DA CAIXA

(Cordel de junho de 1997, postado a pedido, por tempo determinado)

(APRESENTADOR)

I

Meu senhor, minha senhora!

Povo bom aqui presente!

A melhor não se ressente

Da concorrência da boa.

Preste atenção desde agora,

Meu patrão, minha patroa,

Quem vai vencer a eleição

Da festa do Rei João.

II

Pra ser Rainha da Caixa,

A dona tem que ser boa;

Tem que também ter coroa

E que entender de reinado.

Tem que inclusive - não acha? -

Saber dançar um xaxado

E rebolar um baião

Na festa do Rei João.

III

Todas em candidatura

São boazinhas, mas "zuda",

Somente, só Carmenzuda

É boa que só a peste.

Tem charme, tem formosura

No que ela veste e não veste

E vejam só: já ganhou,

E o pleito nem acabou.

IV

Ela é coroa por vida;

Ela é rainha por nome;

É mulher pra qualquer homem;

E é dama pra qualquer trono.

Traz na sua alma escondida

A paz da criança em sono;

Traz no seu rosto, a beleza,

E no seu jeito, a nobreza.

V

Traz no seu peito, o desejo,

Por traz do seu ar sereno;

E traz no olhar, o veneno

Disfarçado de inocência.

Traz nos seus lábios, seu beijo

Tão disfarçado em demência,

Mas é prudente cuidado

De não perder seu reinado.

VI

Traz no seu passo, o jingado,

E em seu compasso, o baião;

Traz no seu corpo, um são joão

Que acende qualquer fogueira;

E traz no seu rebolado

Um pecado e uma maneira

De dançar muito melhor

Um bom xaxado ou forró.

VII

E escute só, minha gente,

A opinião dum matuto

Que já conhece esse vulto

De moça que vai ou racha.

Pessoal, Julião não mente!

- Julião, diga o que acha!

Diga só se Carmenzuda

Não é um deus nos acuda?

VIII

(JULIÃO)

- Doutor, vosmecê me bota

Numa enrascada da peste,

Porque, no sertão ou agreste,

Eu nunca vi não, senhor,

Donzela de tanto dote,

Dona de tanto valor.

Doutor, aquela garota

É boa que só a gota!

IX

Eu conheci essa dona

Na festa da APCE.

(Cê sabe como é que é:

Eu me arrepio em pensar!)

Quando tocou a sanfona,

Ela, então, entrou no ar

E enfeitiçou a festança

Com seu passo e sua dança.

X

Rainha da Caixa eleita,

Desfilou na passarela;

Mas, a desfilar com ela,

Ia o olhar da plateia...

A dona era tão bem feita,

Que não cabe nas ideias;

E todo o mundo aplaudiu

Pelo que viu e não viu.

XI

Em cima do corpo dela

Tem um par de possuídos,

Que até parece caído

Do peito de alguém do céu.

O corpo dessa donzela

Foi retocado a cinzel;

E parece a dianteira

Continuação da traseira.

XII

A gente só via negro

Arrepiando os cabelos;

outros, rebitando os pelos

do corpo pra todo o lado;

E perna e coxa e xamego

e forró, coco e xaxado

e a dona feito um pião,

rodopiando o salão.

XIII

Seu bucho parece até

um travesseiro de anjo

que embala qualquer marmanjo

em demorada soneca.

Mesmo o vigário que, em fé,

parece santo e não peca,

precisa tomar cuidado

pra não cair em pecado.

XIV

A cachorra da mulesta

Encantava qualquer um

ao rebolar seu bumbum

Mais belo que a própria dança.

Enchia o palco de festa,

de perna, coxa e elegância,

de riso, graça e gingado,

de forró, coco e xaxado.

XV

Eu avistei muita gente

se amontando nas cadeiras,

nego fazendo besteira,

m’ninas subindo nas bancas.

E pra enfeitar o ambiente,

negas tirando as tamancas

pra melhor se garantir

e pra com força aplaudir.

XVI

Os guris abestalhado

tiram catota da venta.

No palco, o baião esquenta

mais que a fogueira do João;

E a graça, a coxa e o xaxado

a se espalhar no salão

vai arrecadando votos

e lhe rendendo mais fotos.

XVII

Por isso, no Interior,

todo o mundo votou nela.

Lá, do Oiapoque ao Chuí,

todo o mundo votou nela;

Acolá e lá e aqui,

todo o mundo votou nela.

Quero saber do senhor

quem nela aqui não votou?

XVIII

(JÚLIO, O GERENTE)

Muito obrigado, meu grande,

pelo seu depoimento

tão cheio de sentimento

vindo de seu coração.

E antes que a Globo ou que a Band

lhe informe da votação

eu já garanto ao senhor

que Carmenzuda ganhou.

XIX

Pois esta CAT é o reduto

de seu grande eleitorado:

Do comandante ao soldado,

todos nós votamos nela;

Por esse corpinho enxuto,

pela voz dengosa e bela,

por esse rosto tão lindo,

por esse olhar tão bem vindo.

XX

O mais broxante é saber

que atrás de seu fio dental

é totalmente ilegal

fazer mais que imaginar.

Atrevido não vou ser,

gosto ao cão não quero dar:

É só pro seu maridão

viajar nesse avião.

XXI

Seu tamanho é ideal:

A Bete, que é a mais baixa

das empregadas da Caixa,

adora sua estatura;

E kilma, que é, por sinal,

concorrente à sua altura,

reconheceu o binômio

do seu maior patrimônio.

XXII

Por não gostar de bagulho,

Ozires, da ficha rosa,

e que é fã da prazerosa,

votou nela - né verdade? –

Eu mesmo, o Gerente, Júlio,

que adoro sua amizade,

quando a vejo, eu sei que tenho,

e sinto que já ‘stou prenho.

XXIII

Quando ela não tá de frente

fica, então, muito faceira

e sei: não é só Ferreira

que aumenta seu torcicolo.

Se houver trezentos presentes,

são mais de seiscentos olhos

que, já contando com os dela,

irão rebolando nela.

XXIV

Equipará-la a Madona,

na visão de Gutemberg

é comparar um albergue

a um hotel de cinco estrelas;

modelo, a mulher cafona;

o Frederico com Keilas;

belezas mil com feiúra;

sanidade com loucura.

XXV

Na festa do Pingos d’Água,

até mesmo Dezinário

rezou para ela um rosário

de rasgados elogios.

E alguém bancou empresário

por convidar sem rodeios

a translumbrante donzela

para capa de Ele e Ela.

XXVI

E agora que já se vê

o resultado chegando

(- Muito obrigado, Fernando!

Até que não demorou. -)

Ei-lo aqui. Eu já vou ler

A Carmenzuda deixou

a concorrente em Jejum

p’roitenta votos a um.

(palmas!!! gritos!!!)

XXVII

Só quero é no ano que vem

ver Carmenzuda de novo

maravilhar nosso povo

na festa do Rei João.

E ao rebolar seus encantos

ser sucesso e sensação

exibindo entre as gostosas

as curvas mais perigosas.

XXVIII

Pra findar, passo-lhe agora,

em nome de toda a Caixa,

esta merecida faixa

que todos nós rubricamos.

A Carmem, de coração,

nós lhe homenageamos

com todo o calor da alma

e grande salva de palmas!

(aplausos!!! gritos!!!)

Lúcio Gama
Enviado por Lúcio Gama em 24/06/2012
Reeditado em 25/06/2012
Código do texto: T3742739
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.