Terra de Ninguém

Chamo-me Justino

Desde que era menino

Eu aprendi a caçar e a pescar

Só não tive como aprender o b.a ba

Lembro da minha vozinha a joelhada a rezar

Para que eu nunca viesse a roubar e nem a matar

O que tivesse teria que ser conquistado por trabalhar

Mas a seca arrastou-me para esse longínquo e maldito lugar

Agora sou mais um em meio a tantos outros retirantes

O qual busca sobreviver nessa cidade tão grande

Não quero virar mais um de seus bandidos

Mas encontro-me vagando perdido

E qualquer lugar que eu chego

Não há nenhum emprego

O que muito aqui vejo

Nos sinais e becos

A face desoladora do monstruoso desemprego

Não me resta mesmo a fazer quase nada

Tenho um revolve só com uma bala

Eu não queria ter que precisar

Sacar o meu revolve e ter que atirar

Pior será se eu tiver mesmo que matar

Não foi isso que a vozinha tanto me ensinou

Se ela estivesse viva morreria de desgosto e dor

Sua única riqueza era o seu valor

Agora o seu neto come do que roubou?

Diria ainda bem que Deus já levou o seu avô

Aqui eu vi tanta chuva que muita gente até reclama

Lá para se esquecer da fome íamos mas cedo para cama

E não pense que tardava muito, ela logo me chama

Levanta dai vai da de comer as suas lombrigas

Elas aperreiam-me com tantas brigas

Queria não ter mais essas minhas memorias

Cada vez que lembro dessas horrendas histórias

A fome infelizmente me da mais um pouco de coragem

Para ter de fazer mesmo de uma vez por toda essa bobagem

Aqui não tem nenhum bicho mas é muito mas selvagem

Os venenos das serpentes são a sua malandragem

Meu pai e minha mãe a elas sucumbiram

ninguém que conheço não os viram

Desde quando eles vieram para cá

Parecia que sabiam que não iam mas voltar

Mesmo até hoje penso que ainda vou os encontrar

O nome do meu pai é Sebastião filho Ferreira dos santos

E da minha pobre mãezinha é Ana Ferreira do anjos

Mas não poderão contar com santos e anjos

Estou preste a fazer um grande pecado

Perdoai Deus antes de pratica-lo

Saquei o revolver e anunciei o esperado assalto

Agora havia tantos demônios ao meu lado

As minhas pernas começam a tremer

Logo Todos começam a percebe

Para impor moral dei um tiro para cima

A bala ricocheteou e atingiu um senhor na esquina

Fiquei tão imensamente desesperado e foi logo ajuda-lo

Reencontrei o meu pai em meus braços todo ensanguentado

A sua voz bem fraca balbuciou algo tão divino

Disse-as saudade de tu meu filho Justino

Vejo que não é mas aquele menino

Antes que me peça o perdão

Perdoe-me pela omissão

Não cumpri a missão

Não pude te criar

Pai não vá ...

Por: Leandro Medeiros Santos

leodiferente
Enviado por leodiferente em 23/06/2012
Reeditado em 08/07/2012
Código do texto: T3740004
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