“MEDO DE CARA FEIA”
Tendo medo de cara feia
Num olhe para o Lampião.
Valdemiro Mendonça
I
Se tu vai fazer um cordel
Pense antes de ocê fazê,
Veja de quem tu vai falá
E que pode te acontecê,
Bolinando na vida alheia
Nesta tua rima e curtição.
Tendo medo de cara feia
Num olhe para o lampião.
II
Ele era o cabra da peste
Gostava de pau no lombo
Pegava roceiro no agreste
Matava pra ver o tombo,
Ao cair e rolando na areia
Levantava poeira no chão.
Tendo medo de cara feia
Num olhe para o lampião.
III
Dizem, era um intiligente
Inventô inté o tal xaxado.
Foi na festa de são João
Deixou um povo avexado,
Rino ca boca inté a oreia,
Fazeno a maió da zuação.
Tendo medo de cara feia,
Num olhe para o lampião.
IV
Povo dançava quadrilha
Ele parou tudo a diversão,
Fica todo mundo pelado
Eu vou marcar a coleição.
Tira carsola e inté a meia
Que pra cair na cunfusão.
Tendo medo de cara feia
Num olhe para o lampião.
V
E balanceia minha gente,
Vamos dançar quadrilha,
Quem que não sabe rezar
Não reza a minha cartilha,
E nem fala de boca cheia,
Porque arruma é cunfusão.
Tendo medo de cara feia,
Num olhe para o lampião.
VI
Pode para tudo de novo
Tudo torto e num afunila.
Homi na frente muié atrás
Nóis vai formá é uma fila.
Ô córto é tudo na correia
Pa indireitá essa coleição.
Tendo medo de cara feia,
Num olhe para o lampião.
VII
E vamo cumeçá a dançá
Mordi qui já tá iscurecenu,
Balanceia, as muié rebola,
E home vai atrais mexenu,
Vai si incostanu na rabeia
Só num podi botá a mão.
Tendo medo de cara feia,
Num olhe para o lampião.
VIII
Balan... Balanceia nada,
O balanciadu ta é iscroto.
Vamo fazê a indedação,
O dedo no tobróis do ôtro,
Premeru limpa das areia
Mordi num da à isfolação.
Tendo medo de cara feia
Num olhe para o lampião.
IX
Agora já meteru o dedãu
Queru é ninguém di tôca,
É um dedão lá no tobróis,
Outro dedu bota na boca,
E é assim cocêis guerreia
Só mantenu a ritimiação.
Tendo medo de cara feia,
Num olhe para o lampião.
X
Balanceia ta é chuvenu
ô chente é tudu mintira,
Oia gai de pau no coco,
Balanceia qui é sucupira,
Se é sucupira balanceia
Vê se mexe essi bundão,
Tendo medu de cara feia,
Num olhe para o lampião.
XI
Balan... balanceia é nada,
Vamo tratá é di cunsertá,
Chicote grandi balançanu
Dá nó pra num arrebentá,
E vamo continuá a peleia
Qué pa treminá a viração.
Tendo medo de cara feia,
Num olhe para o lampião.
XII
Balanceia sua cambada
Rebola e mexe sem trela,
Pé na frente outro atrais
Vamo passá na pinguela.
Quela ta firmi num vareia
Oceis sigura na xaxação.
Tendo medo de cara feia
Num olhe para o lampião.
XIII
Xaxa e vorta na pinguela
Balanceia sem o berreru,
Nóis vai formá uma roda
In vórta de tudu o terreru,
Sem mexê a sombraceia
Sempri fazenu marcação.
Tendo medo de cara feia,
Num olhe para o lampião.
XIV
Cuntinua marcanu passu,
Cadença mantém enredu
Agora tá tudu aperparadu
Vamu tudo trocá de dedu,
Vê si perna num bambêia
Queru é ninguém nu chão,
Tendo medo de cara feia
Num olhe para o lampião.
XV
Tá oianu o dedu rapaizim?
É a caca, tá danadu irmãu,
Danadu di quê ô rapaizim?
Danadu di bãu sô capitão.
Bota na boca e saburêia,
Qui acabô nossa coleição,
Tendo medu da cara feia
Num olhe para o lampião.
Trovador.