" CALANGO DO CAÇADOR"

"DOS MEUS TEMPOS DE CRIANÇA NAAS FÉRIAS DA ROÇA"

Valdemiro Mendonça

É nu calangu tangu

Ripipicu o trem sarará,

Se quisé cantá calangu

Tem de sabê viajá

Tem de mexer na viola

E aprendê fazê marola

Pra podê calanguiá

Meu amigu mim discurpi

Mas agora ieu vou falá,

Cantadô da sua marca

Gosto mermu é di muntá

Ieu ti boto um frei di pau

E vô nu muin buscá fubá

Ti cutucu cum a ispora

Sô cê pensa im impacá

Puxu dum ladu pro otru,

Pa seu pescoçu intortá,

E ti metu o pé na bunda

Façu a puera alevantá.

Ieu qui vi uma cavêra

Surrindu pa mim assustá

Julguei o chapéu pa riba

O chapéu paro no á,

Gritei cruiz credu avi maria

Meu chapéu torno vortá,

Ieu achu qui o calangu

Ta querenu mim inrolá,

Mais si pegu nu calangu

É pru qui sei calanguiá

Ieu cantu a noiti intera

Inté o novu dia crariá.

Acordei e espreguicei,

O dia acabô de raiá,

Asseei minhas canjicas

Saí de casa pra caçá,

Tomei o café com broa

E queijo pra compretá.

Atrelei meus cachorros

Saí pro mato pra caçá,

Distância de meia légua

Cão começou a acuá,

Eu cheguei mais de perto

Era o bicho tamanduá,

Eu já gritei pra Catarina,

Traz a espingarda cá,

Mas Catarina demorou,

Arranquei o revorve pá

Pois a banha deste bicho

Vou mandar engarrafá

Eu vou da é de presente

Praquela moça que tá lá,

Pois ela não tem dinheiro

Prum pirfume ela cumprá

Passa a banha no cabelo,

Quando ela fô namorá.

O calango e a lagartixa

Começaram a namorá

O calango saiu pra rua,

E lagartixa pegô chorá,

Lagartixim tá cum fome

Cum vontade de mamá.

Meu gogó pulou no toco

E pediu fogo pra fumá,

Mim adiscurpi meu gogó

Num tenhu fogu pa ti dá,

Já faiz mais de doze ano

Qui ieu larguei di pitá.

Quem quisé cachaça boa

Manda o calangu buscá,

Calangu é bichu ispertu

Vai di pressa e vorta é já,

Bota rabu lá nas costa

E a cachaça no imborná,

O calangu é bichu doidu

Passa n’água sem moiá.

Su calangu é bichu doidu

Eu cá tumém sei indoidá

Ieu viajei sessenta légua,

Nu lombu de uma Piriá,

O tar bichu é pititiquim,

Mas danadu pa caminhá.

Já bibi leiti de cem vaca

Na porteira di um currá.

Eu ajeitei o meu pau torto

Qui arguém feiz intortá,

Lutei cum a cobra sucuri

Nu meio dum taquará.

Trovador

Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 17/06/2012
Reeditado em 17/06/2012
Código do texto: T3728907
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