FORROZANDO NO OLHO D’ÁGUA LEMBREI DO REI DO BAIÃO

FORROZANDO NO OLHO D’ÁGUA LEMBREI DO REI DO BAIÃO

Ô forrozão animado,

nesse OLHO D’ÁGUA querido,

a sanfona no gemido

e o povo, no balançado,

dançando xote e xaxado,

bebendo uísque e quentão,

comida boa, em rojão,

Arlindo, aqui, comandando,

e a gente, comemorando,

lembrando de Gonzagão.

O nosso Rei do Baião,

nesse OLHO D’ÁGUA bem vindo,

expressaria, sorrindo,

as coisas lá do sertão.

Na minha imaginação,

se aqui estivesse presente,

puxaria, sorridente,

seu fole, com alegria,

enquanto a minha poesia

fluía espontaneamente.

Mas, não podendo vir cá,

mandou um representante,

humorado e saltitante,

que no seu dó, ré, mi, fá,

pôs o si antes do lá,

numa tocata ligeira

e com a sanfona brejeira

fez dançar quem tava quieto

pondo, no salão completo,

a turma na brincadeira.

Era um baixinho atrevido,

que me pegou, pela mão,

levando pelo salão,

com seu jeito extrovertido,

cantando inglês divertido,

porem todo atravessado,

seguindo, bem compassado,

no passo da melodia,

enquanto meu povo ria

do meu jeito encabulado.

A minha tranquilidade

só foi restabelecida

quando outra mão foi pedida

naquela festividade.

Logo, logo, a novidade,

foi um cara mais jeitoso,

que dançou, bem mais manhoso,

com nosso sanfoneirinho,

aplaudido com carinho,

pelo seu modo tinhoso.

A mulherada sorria

vendo macho pagar mico

e o motivo que indico

causou toda sua ironia,

pois cada uma bem sabia

que era função da vingança

por não ter havido dança

lá no começo da festa

e ria assim, que nem presta,

dos machos na contradança.

A brincadeira rolou

durante mais de uma hora,

fazendo um moço ir embora

pra longe de quem dançou.

Depois de tudo voltou

sem saber dizer direito,

o que durante foi feito,

enquanto esteve escondido,

mas imagino ter sido

pra não ser par de um sujeito.

Passada essa narrativa,

começo a dizer agora

que tive a futura nora

chamada pra ser festiva.

Noiva de fato e ativa,

no casamento matuto,

viu o padre tão resoluto,

questionando meu filho,

que repetiu o estribilho,

perante o juiz astuto.

Tu quer casar ou não quer?

- disse o juiz ao rapaz,

pois querendo a gente faz

o casamento se der.

Prove amar muito a mulher

e não ter nada em oposto,

beije-a na boca e no rosto,

diga-me se já buliu,

pois se dela se serviu,

vai ter que casar com gosto.

Finalize esse casório!

Alguém gritou - lá de trás.

- Case logo esse rapaz,

deixe desse adjutório!

Abra as portas desse empório

deixe as letras da cartilha,

com todos aqui, na trilha,

fazendo improvisação,

solte toda animação,

para dançar a quadrilha.

A marcadora anuncia:

cada qual pegue seu par,

para assim poder dançar

a quadrilha que inicia.

E logo se prenuncia,

o que dela era esperado,

com macho dançando errado

e mulher sem seu parceiro,

sendo esse o mais verdadeiro

sentido do improvisado.

A risadagem geral

tomou conta do pedaço.

Teve gente errando o passo,

mas tudo isso foi normal.

Fez parte do nosso astral,

pois o povo nordestino

convive com seu destino,

superando o sofrimento,

fazendo alegre o momento

e do forró o seu hino.

Encerrada essa quadrilha,

distante de marginal,

bem longe de tribunal,

acercou-se a camarilha,

para ver quem compartilha,

da comida e da proposta,

mostrando que o povo gosta

de comer, sem empecilho,

toda comida de milho

em cada mesa disposta.

Chega a hora da despedida,

já varada a madrugada,

minha poesia anotada,

embora não fosse lida.

Assim mesmo é nessa vida,

não temos tudo completo,

mas é melhor seguir reto,

de cabeça levantada,

quem sabe, noutra jornada,

seja o prato predileto.

A minha parte foi feita,

dancei, brinquei, fiz poesia,

destranquei minha alegria,

do jeito que dá e se ajeita.

Tive a empreitada perfeita,

crendo até ter feito jus,

mas agradeço a Jesus

que me deixou ter narrado

esse momento marcado

com muita fogueira e luz.

A todos, enfim, sou grato,

pela festa tão bonita,

com Fábio e Sérgio, na fita,

montando todo aparato.

Agradeço cada prato

que, com prazer, degustei

além do que desfrutei

acima do que eu sonhava

enquanto ali recordava

que meu baião tinha um rei.

Relembrei Luiz Gonzaga,

que fez do nordeste exemplo,

pondo luz própria, no templo,

que da mente não se apaga.

Vi como a sanfona afaga

as dores do coração,

tocando cada canção

guardada no imaginário,

ilustrando o Centenário

do nosso Rei do Baião!

Marcos Medeiros