As delícias de Iraquara

Iraquara é uma cidade

Que fica bem situada

Num cantinho da Bahia

No coração da Chapada

Peço licença pra falar

Dessa gente animada.

No dia cinco de julho

Aniversário Iraquara faz

Uma cidade responsável

E de belezas naturais

No seu cinquentenário

Uma data de muita paz.

Agora bem meus amigos

Vou pedir pra me escutar

Aqui nesse município

Não sei nem como contar

A vida era de sofrimento

E nesse cordel vou narrar.

O povo nesse lugar

50 anos atrás

Ganhava muito pouco

E trabalhava por demais

Ia pra feira de SEABRA

Em cima de animais.

O povo sofria muito

Mas tinha que improvisar

Era grande a preocupação

Para os filhos alimentar

E alguns nomes de comidas

Eu agora vou citar:

Pra tomar café de manhã

Era grande a agonia

Era um bule de café

Para uma grande “famia”

Uma farofa de ovo

Mas a barriga não enchia.

Fazia um cuscuz de puba

Arrancava um aipim

Cozinhava uma canjica

Na casa de seu Joaquim

E debaixo da farinha

O beiju saía “prontim”.

Fazia o beiju no forno

De massa ou de tapioca

Peta, cuspido e joão duro

Tudo vindo da mandioca

Com milho fazia fufuca

Mungunzá,cuscuz, pipoca.

O bom beiju com coco

Na palha de banana enrolado

Pedaço de tapioca fresca

Nas brasas bem assado

E mingau de tapioca

Com rapadura adoçado.

Esse povo levantava

Bem cedo, de manhãzinha

Comia umas batatas

Isso é, lá quando tinha

E dentro da caneca

Era café com farinha.

O bolo e mingau de puba

O inhame e a macacheira

E o gostoso quibebe

Feito com o fruto da bananeira

E um escaldado de leite

Com bolinho de frigideira.

Uma farofa de ovo frito

De manhã o povo comia

Ovo batido e cozido

De todo jeito fazia

Era pirão, era “môi”

Colocava farinha e rendia.

Colocava o milho de molho

De noite para tirar o fubá

Levantava bem cedinho

E no pilão começava a pisar

Pisa!pisa! pisa! Pisa!

E aí só faltava peneirar.

Daí já podia fazer

O bolo, cuscuz ou mingau

Não tinha nenhuma mistura

Era basicamente o sal

Podia fazer a polenta

E também um bom curau.

Doce de leite e requeijão

Nas famílias de mais poder

Um leite de gado com café

Bebido logo ao amanhecer

Fazia uma coalhada

Para a criançada comer.

Café de rapadura

Brevidade, avoador.

E na hora do almoço

Era fava e mangalô

E quando não tinha eles

O estômago era só dor.

Tinha o feijão mexido

Também tinha o engrossado

Caldo de sebo e mocotó

E vários tipos de cortados

Tinha abóbora e gerimum

Com quiabo misturado.

Tempera o feijão

Engrossa com o fubá

E o milho no borralho

Espera só pipocar

E um courinho de porco

Para no feijão cozinhar.

Na falta da farinha

Era muito trabalhão

Fazia farinha de milho

Pisava tudo no pilão

Tirava o fubá e torrava

Pra comer com o feijão.

Comia batata com feijão

Ainda na falta da farinha

Carne assada nas brasas

Por não ter uma gordurinha

E para a mulher de neném

Um “pirãozim” de galinha.

Naquele tempo, de vez em quando

Arranjava uma buchada,

Com um bolo de feijão

E um “pedacim” de carne assada

Tinha o caldo de feijão

Com pimenta acompanhada.

Ainda tinham as farofas

De carne ou de toicim

As banhas feitas de porco

Que pra fritar era assim

E pra poder acompanhar

Uma paçoca de gergilim.

Feijão bebido, feijão de corda

Ainda no meio- dia

Cortado de palma e maxixe

De cabaça e de caxia

E um godó de banana

De vez em quando comia.

A folha de abóbora

Feita em cariru

O bredo e a maniçoba

Com uns bolos de andu

E a folha de beldroega

É gostosa pra chuchu.

Quando matava um porco

Tinha muita tripa assada

Fazia um baião de dois

Aparecia até rabada

Mas o feijão era pouco

Para uma grande feijoada.

A taioba e a serraia

Pra fazer mais cariru

E a língua de vaca

Um pouco pra mim e pra tu

E ainda tem a mostarda

Pra comer com carne de jacu.

Tinha o bofe de leão

E do reino tem o quiabo

Tem ele de todo tipo

De jeito bem variado

Tem o quiabo de metro

Até o chifre de veado.

No almoço fava com peixe

Comia torresmo de “toicim”

Comia banana frita

Mas era só um “pouquim”

O melado e a rapadura

Até hoje são assim.

Com o coco se faz óleo

Faz leite e cocada

A rapadura de coco

Ainda é muito procurada

Paçoca e mel na gamela

E faz toda a misturada.

Ainda tinham os cortados

De maracujá e mamão.

Facho, Mané pelado

Rapadura,mel e feijão

Com muitas dificuldades

Fazia a negociação.

Tinha todas essas comidas

Mas era só de vez em quando

A vida era de sofrimento

Ia comendo quando achando

Era só ver os alimentos

Que já ia mastigando.

Agora as comidas modernas

Vou pedir licença pra falar

Tem os que comem muito

Mas não querem engordar

Muita gente fica triste

Por não saber se alimentar.

Agora eu vou citar

Umas comidas bem gostosas

São desse tempo de hoje

Elas são bem saborosas

Tem em todo mercado

Mas podem ser perigosas.

O povo agora come

No almoço uma calabresa

Come um pudim de leite

Todinho na sobremesa

E o colesterol

Sobe que é uma beleza.

Lasanha, estrogonofe

Com batata acompanhada

E para satisfazer

Lá vem uma macarronada

Para adoçar a boca

Creme de leite com goiabada.

No café da manhã

Tem o queijo parmesão

Um copo de leite gelado

Com um quilo de requeijão

Ainda se não encher

Uma sacola de pão.

Faz festa para criança

Com bolo recheado

Pirulito e muita bala

Com brigadeiro do lado

Gelatinas e picolé

E sorvete bem gelado.

Tem o frango e salsicha

E sardinha enlatada

Um pedacinho de bacon

Dentro de uma feijoada

Um frango empanado

E asa de frango assada.

Hoje, o povo quer luxo

Quer tudo que aparecer

A barriga já tá cheia

Mas ainda quer encher

Outros ainda não comem

Porque querem emagrecer.

Ainda tem o presunto

E mortadela fatiada

Bastante carne moída

E calabresa defumada

Mas tem quem aprecie

Uma boa rabanada.

O famoso miojo

Muito fácil de fazer

Três minutinhos no fogo

E tá pronto pra comer

Um alimento não saudável

Não podemos esquecer.

Uns comem bolacha doce

Outras escolhem a de sal

Tem os que preferem amanteigadas

Que tem sabor sensacional

Ainda vêm as recheadas

Com aromatizante especial.

Farinha de trigo enriquecida

Fubá, bicarbonato, sal

Os enlatados e conservantes

E muita gordura vegetal

E os cafés empacotados

Dito como tradicional.

Arroz tem de todo tipo

O famoso parbolizado

Tem também os molhos prontos

Com ingredientes selecionados

Até a canjica branca

De grão despeliculado.

Tem os temperos completos

Com ou sem pimenta

Os sazons e os caldos

Que o intestino não aguenta

Cuidado com ela

Que o seu estômago arrebenta

Preciso dizer pra vocês

Que é difícil se alimentar

Mas as comidas estão aí

Só precisa organizar

Tem muita comida saudável

Chegou a hora de selecionar.

Tem as comidas de antes

E as da modernidade

Não precisam comer muito

Basta ter maturidade

O que importa é ter saúde

E muita felicidade.

Fiz esse cordel

Com imenso prazer

Comidas diferentes

Mas para o povo sobreviver

Quero dizer hoje a Iraquara

Parabéns pra você!

Cordel de 48 estrofes ( sextilhas)

Estilo das rimas:XAXAXA

As letras “A” são os versos rimados.

Autora :Cleudete Souza Lopes. Professora de Língua Portuguesa,(na Escola Municipal Altino Rodrigues). Licenciada em Letras com Inglês pela Faculdade de Tecnologias e Ciências-ead./

Zabelê-Iraquara-BA.2012.

keulopes
Enviado por keulopes em 11/06/2012
Código do texto: T3718412
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