CEM ANOS DE BAIÃO: LUIZ GONZAGA, MENESTREL DO SERTÃO
Senhoras e senhores
Do Brasil que é meu chão
Vou falar de Luiz Gonzaga
O nosso Rei do Baião
No ano do seu centenário
Faz xote na imensidão
Luiz Gonzaga Nascimento
Lula, Luí ou Lua
Também é Gonzagão
Outra identidade sua
Esse homem libertário
Que cedo ganhou a rua
Inspirou-se na vivência
Do sertanejo sofrido
Que luta calado
Não lança um alarido
As canções do veio Lua
Canta o povo reprimido
Fala do homem do campo
E de sua dura lida
Retrata o seco nordeste
Que castiga tanta vida
As verbas do nordeste
Por alguém é recolhida
Ao Brasil manda um recado
Sem querer ingratidão
O nordeste não quer esmola
Quer apenas atenção
Pois tem força de trabalho
O sustento vem da mão
Como bravo nordestino
Com ousadia de montão
Ensinou o que é forró
Xaxado, xote e baião
Um pisado nordestino
Que já virou tradição
Ouvindo seu Januário
Ele aprendeu a tocar
Seu pai animava festas
E Luiz sempre a escutar
A música adentrou a alma
E para o mundo foi ecoar
Seu Januário tocava
E consertava acordeom
Também chamado de fole
Que instrumento bom
Mudou o destino de Luiz
Mostrando qual o seu dom
Nosso Mestre Gonzaga
Homem de grande valia
Nasceu em 13 de dezembro
Dia de Santa Luzia
Lá nas terras de Exu
Para nossa alegria
Seu Januário era
Lavrador e sanfoneiro
Que animava as festas
Ganhava pouco dinheiro
E fazia a alegria desse povo
Desse povo hospitaleiro
Toda mãe diz, vá em frente
Lute, não desista
Torcia muito por Lua
Sua mãe Ana Batista
Sabia que o filho ia longe
Até perder de vista
Esse menino nascido
Em mil novecentos e doze
Tinha música no sangue
Vivia fazendo pose
Para conquistar as meninas
Sorria fazendo um close
Em mil novecentos e trinta
Em plena recessão
Foi servir o exército
O nosso Rei do baião
Foi como voluntário
Talvez pela situação
A vida não era fácil
Estavam ruins as marés
Quando saiu do exército
Foi tocar em cabarés
Mostrando seu ritmo
E o pisado dos pés
No Programa de Ari Barroso
Veio a consagração
Com a música “Vira e mexe”
Um show de inspiração
Mostrou nosso nordeste
Para o resto da nação
Simboliza o nordeste
Sua música raiz
Conta as agruras do povo
Também seu lado feliz
Canta nossa natureza
E o canto da perdiz
Caiu no gosto do povo
O nosso Rei do baião
Com o povo nordestino
Sofreu grande aflição
Expulsos de sua terra
Por falta de intervenção
Ele cantou Asa Branca
Com pesar no coração
Perguntando pra Deus
Porque tamanha judiação
O gado e o povo com sede
Excluídos da nação
Conscientizando o povo
Era essa assertiva
Cantou triste partida
Do poeta Patativa
Esse recado tão triste
O nordeste a deriva
Seu nordeste tão querido
Onde chuva é coisa rara
Teve que partir
No tal do pau de arara
“Tomara que chova logo
Tomara meu Deus tomara”
O povo nordestino
Não teve outra opção
Foi embora para São Paulo
Erguer nossa nação
Lá deixou sua marca
Deixou sua impressão
Porém ficou oprimido
Teve decepção
Com salários indignos
Servindo ao mau patrão
Nordestino é raiz
Fica preso ao seu chão
Se Luiz tivesse vivo
Morreria de aflição
Ao ver que nada foi feito
Esturrica o seu sertão
Morre gente, morre gado
A míngua, sem atenção
Para os ricos tem jeito
Tem cultura irrigada
Sem falar das adutoras
Para eles canalizadas
Para os pobres, latas d’água
Muitas léguas pela estrada
Já que no pé de serra
Luiz deixou seu coração
Viajou pelo mundo
Porém voltou pro sertão
Que é seu canto querido
Sua terra seu chão
Voltou pra sua terra
Para aquele chão ressequido
Pensando que o povo dele
Já tivesse esquecido
Fizeram grande festa
Por ele ter vencido
Passaram-se muitos anos
Até ele retornar
Bateu na porta de casa
Disse a senha para entrar
Louvado seja nosso senhor Jesus Cristo!
Januário disse: Isto é hora de chegar!
Luiz fez canções
Lutava por equidade
Ele queria acordar
A nossa sociedade
Que destrói a natureza
Por descuido, por maldade
Da problemática ambiental
Lula não se esqueceu
Perguntou pela flor
Que desapareceu
Não é possível encontrar
Poluição comeu
Denunciava no xote
A grande poluição
Que paira no ar
Adoecendo o pulmão
Uns chamam de progresso
Eu chamo devastação
Dava conselho aos pais
Para o coração sossegar
Menina namoradeira
Não tem jeito a dar
Pois menina na flor da idade
Só pensa em namorar
Gonzaga, Mestre que orgulha
Toda nossa nação
Peço a Deus fartura
E água para o sertão
O resto temos de sobra
Coragem não falta não!