CORDEL PARA BRINCAR
Hoje estou um tanto louco
querendo trocar os versos
atravessar o oceano
solfejar no seu reverso
pegar sovaco de cobra
pois sou pau pra toda obra
as verdades não contesto
Velejar em mar aberto
rodopiando cascavel
matando cachorro a grito
desenhado no papel
sorrir pra triste figura
amenizar as agruras
me lambuzar todo com mel
Futebol com elefante
correr atrás de macaco
pintar os sete dormindo
desprezar qualquer recalco
degustar manga com leite
ter você no meu deleite
num compromisso marcado
Pescar peixes com um balde
subir escada pra lua
polir todas as estrelas
fazer limpeza na rua
dormir no fio elétrico
ser escritor eclético
desenhar mulheres nuas
Andar descalço na brasa
comer moqueca de peixe
voar como os pássaros
se não me quiser, me deixe
acender vela de carro
fazer santinho de barro
para que você me beije
Pular de ponta cabeça
residir no fundo do mar
passar os dias sorrindo
antes do mundo acabar
nunca ser um proxeneta
botar tinta na caneta
tomar porre de guaraná
Ser viciado em sexo
fazer muita palhaçada
zombar de quem se diz sério
jogar bola na calçada
botar corrupto na cadeia
embelezar a mulher feia
ser feliz na trapalhada
Mandar pra ponte que caiu
esses tolos orgulhosos
que pensam ser mais que outros
mas são cagões pavorosos
plantar roseiras nos jardins
meios não justificam os fins
Desabafei neste cordel
meus fantasmas de outrora
já posso apagar a noite
abraçar minha senhora
vou cantar para estrelas
quebrar todas as cadeiras
chega, eu paro agora!