“BRIGA DO LAITE COM O CAPETA I V”

Valdemiro Mendonça

FiNAL

XLV

A rainha dos capetas

Se doeu pelo seu rei,

Pulou no meio da roda

Disse brigar não sei,

Mas o meu chifrudo,

Caído eu não gostei.

XLVI

Levou soco na venta

Bufou como carneiro,

E como toda mulher

Abriu logo o berreiro,

Saiu voando da roda

Pelo tapa no traseiro.

XLVII

Chegou o capetinha

Filhotinho do capetão,

Como era pequeno

Só levou um beliscão,

A sogra do cão chiou

Já levou um pescoção.

XLVIII

Laite estava ganhando

Pegou a faca e facão,

Cortou a orelha da sogra

E provocou o capetão,

Vou levar pra minha casa

E mandar fazer sabão.

XLIX

O cão reconheceu

O crioulo é de morte,

Falou pra capetada

O cabra é muito forte,

Pulem todos em cima

Pra selar a sua sorte.

L

Juntou a capetada

Em cima dele pulou,

Tiraram a roupa dele

E no poste amarrou,

Só aí que a diabada

Da roda se retirou.

LI

O cão todo alegre

Deu uma risada fina

De medo Laite até

Arrepiou a gafurina,

Quando o cão pediu

Uma lata de vaselina.

LII

O crioulo ficou branco

Passando toda agonia,

Agora tô atolado

Hoje que a jiripoca pia,

E o cão até babando

Só com o rabo mexia.

LIII

Na verdade o Lúcifer

Estava se divertindo,

O Laite pensou errado

O capeta ficava rindo,

A vaselina era apenas

Pra arma ficar luzindo.

LIV

Laite respirou aliviado,

E ficou até contente,

Ao chegar à vaselina

Viu o diabo renitente,

Untar com muito jeito,

A ponta do seu tridente.

LV

O cão disse seu Laite

Por você tenho respeito,

Vi que é cabra macho

Brigou comigo direito,

Vou matar com pena,

Pois você é bom sujeito.

LVI

Por ser cabra brigador,

E liso que nem quiabo,

Vou apontar as orelhas

Vou lhe botar um rabo,

Levo você pro inferno,

E transformo em diabo.

LVII

Chifre não sei fabricar

E eu não vou prometer,

Mas case com a diaba

Que logo você vai ter,

E pode ficar sossegado

Será o último, a saber.

LVIII

Eu só vou lhe ajudar

Pois quase me logra,

E estou agradecido

Pois não gosto de cobra,

Me fez um favor cortando

A orelha da minha sogra.

LIX

O Laite lhe respondeu

Escute aqui ó seu cão.

Eu não vou ser um diabo

Não gosto de tentação,

Pois inferno por inferno,

Eu fico neste mundão.

LX

Pode usar seu tridente

Faz o que você quiser,

Pro inferno eu não vou

Do jeito que você quer,

Eu não gosto de rabo,

E nem chifre de mulher.

LXI

Seu preço é muito caro

E por isto deu confusão,

Apanhei e dei porrada

Mostrei que sou machão

E só perdi esta briga

Por causa do seu povão.

LXII

O cão disse se é assim,

Comece logo a rezar,

Vou lhe meter o tridente

E vai ser é de amargar,

Quero só ouvir o grito

Na hora que lhe espetar.

LXIII

Laite perdeu a coragem

Pois não esperava tanto,

Deu-lhe uma tremedeira

Se borrou-se não garanto,

Mas até hoje está rouco

De tanto chamar o santo.

LXIV

Nesta hora o galo canto

Anunciou a madrugada,

A luz do dia já chegando

Espantou a tal capetada,

O Laite ficou amarrado

No meio da encruzilhada.

LXV

Quando foi no outro dia

Logo que foi encontrado,

Não quis falar a verdade

Medo não ser acreditado,

Contou que foi vagabundo

Que lhe tinha assaltado.

LXVI

Só contou para o Waldir,

Que jurou guardar segredo,

O Waldir contou pra mim,

Pensei que era brinquedo,

Mas ele jurou ser verdade

A invenção deste enredo.

LXVII

Depois disto o amigo Laite

Virou homem respeitador,

Não mexe mais com mulher

E não é mais um brigador,

É eletricista mexe com força

Nunca mais quer ser doutor.

Fim

Trovador.

Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 02/06/2012
Reeditado em 17/06/2012
Código do texto: T3702094
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