Sob o ventre, nas montanhas

Nas montanhas alterosas

Do Sul de Minas Gerais

Havia uma bela senhora

E um pobre capataz

Ela flor da comunidade

Ele pobre como espinho

Mas o amor bateu a porta

Deste belo casalzinho

Depois de muito lutarem

Contra as criticas sociais

Decidiram num acordo

Fugirem pra nunca mais

A bela com a sombrinha

A fera em comunhão

O silêncio testemunhava

A triste decisão

Na cabeça do casalzinho

Tristeza e confusão

Fizemos a coisa certa?

Ou erramos na decisão?

Longo caminho percorreram

Dias e dias a andar

O cansaço foi chegando

A angústia a rondar

Na boca da escura noite

Do terceiro dia de viagem

Encontraram no vale fundo

Pouso, descanso e paragem

Comeram, beberam e dormiram

Ao lado do fogo acolhedor

O mestre de cerimônia

Tinha manhas de doutor

Falava com pompa e conteúdo

Sobre tudo discorria

O olhar malicioso

Desnudava com malicia

A bela moça alertava:

Querido tome tensão

Tenho medo do dotô

Seu olhar de traição!

Mulher o que é isso?

O ôme é dos bao

Nos deu casa e comida

É pessoa de compaixão

A mulher desconfiava

Via coisa por demais

Sabia da malícia

Deste velho capataz

Belo dia de noitinha

O mal logo entornou

Fechando a porta do quarto

O doutor se desnudou

Fez o que quis e não podia

Com a moça sem perdão

Nem o choro de donzela

Trouxe ao homem compaixão

A mulher toda desfeita

Teve medo da reação

Do marido enganado

E tomou pronta decisão

Fujo logo deste inferno

Vou pra longe rapidinho

Fujo antes da chegada

De meu velho maridinho

E assim se sucedeu

A mulher bem decidida

Pegou sua matulinha

E fugiu pelo matinho

O marido já desfeito

Soube do todo passado

Eu lavo minha honra

Vou às forras do tarado

E assim meus amigos

Termina a nossa prosa

Sem moral e solenidade

Neste dia de desforra

Não entendo pois senhor

Nesse mundo velho cão

Como pode ainda haver

Tanta ruindade num só coração

Lelo Bitar
Enviado por Lelo Bitar em 30/05/2012
Código do texto: T3696502