"BRIGA DO LAITE COM O CAPETA I"
Valdemiro Mendonça
Cordel sextilhas
Obrigação das rimas: “segunda linha para quarta e sexta”
Cubatão 12/02/1987
Qualquer aparência com nomes ou pessoas não é mera coincidência.
(Primeira parte)
I
Todo mundo já sabe
Que o Laite é gozador,
Fofoqueiro bom de briga
Metido a conquistador,
Pra ganhar uma mulher
Finge até que é doutor.
II
Numa obra do Guaraú
O dito cujo se deu mal,
Conheceu uma secretária
Era filha de um general,
Pra namorar esta garota
Falou que era industrial.
III
Três meses de namoro
Já pensava em noivado,
A moça caiu no choro
Ao saber que era casado,
Foi preso e tomou um coro
Dum general e um soldado.
IV
Quando saiu da cadeia
Pensou logo em vingar,
No terreiro de macumba
Procurou o pai jaguar,
Mandou fazer despacho
Pra secretária voltar.
V
Painho disse ô zi fio
Fazê que suncê quer,
Tem de falar com o cão
Que é o pai do lúcifer,
Único capaz de trazer
De volta a sua mulher.
VI
Laite metido a valente
Disse, vou e levo porrete,
Encontro com este cão
Conto pra ele o macete,
Se não me der atenção
Eu derriço nele o cacete.
VII
Pai jaguar disse ocê vai
Meia noite na encruzilhada,
Leve uma garrafa de pinga
Uma galinha preta assada,
Vinte duas velas e charuto
Uma mandioca descascada.
VIII
Quando for a meia noite
A galinha zifio desabafa,
Acende as velas e charuto
Tire a tampa da garrafa.
Grita o nome do puto
Oferece logo a marafa.
IX
Se o demo não aparecer,
Mecê dá uma de bicha loca
Dê três voltas na galinha,
Bota a mandioca na boca,
Dê vinte reboladinhas
Chama com voz bem roca.
X
Lúcifer, ó cão petinha,
Vem de lá q'eu tô de cá,
Vem comer esta galinha,
Que ta gostosa pra daná.
Socê fizé acuma quero,
Dou charuto procê pitá
XI
Numa sexta feira treze.
Ele foi cumprir a missão,
Foi para a encruzilhada
Carregando um pacotão,
Que tinha os apetrechos
Que é do agrado do cão
XII
Quando deu meia noite
O marafo ele destampou.
Acendeu logo o charuto,
Com as velas iluminou.
Rezou e exibiu a penosa
Deu um grito e chamou.
XIII
Mas o capeta bem sabido
Fico de longe a observar,
Meia noite já passando
Nada do bicho chegar
Ele Mordeu na mandioca
E começou a rebolar.
XIV
Veio catinga de enxofre
Numa grande explosão
No meio desta fumaça
Apareceu o filho do cão
Soltando fogo da venta
Urrando como um Leão.
XV
Falou com voz grossa
Em baitola não encosto,
Não adianta ocê rebolar
Cabra safado não gosto,
Dou o c'ocê quer ganhar
Na sua alma eu aposto.
XVI
Só aí o Laite percebeu,
Pai jaguar é gozador.
Tinha parte com o diabo,
E era o seu corretor
Fez o crioulo de bobo
E panaca e rebolador.
Fim da primeira parte.
Aguardem um dia de chuva
Para a segunda.
Trovador