A BRIGA DO GRILO COM O LEÃO.

Certo dia um leão grande

Com mais de duzentos quilos

Na floresta distraído

Pisou no pé de um grilo

O inseto tão magrinho

Sentiu a dor no dedinho

Ficou puto com aquilo

O grilinho enraivecido

Foi soltando palavrão

Xingava o leão de corno

De chifrudo e de cagão

o chamou de morta-fome

E falou: se tu for homem?

Volta aqui seu veadão

Naquele dito momento

Aquela fera voraz

Arrepiou sua juba

E se virou para trás

Mas o grilinho valente

Botou pra fora seus dentes

Bravo igual o satanás

Então o grilo nervoso

Segurou seu patuá

Rezou pra santa Luzia

Pulou pra lá e pra cá

Fez um barulho nas asas

Queria correr para casa

Mas não conseguiu andar

Então naquele momento

Ele avistou um lajedo

E uma brecha na pedra

Que mal cabia seu dedo

Foi a sua salvação

Ele abriu mais com a mão

E se escondeu no rochedo

Sentindo-se protegido

Do rei da selva valente

Xingou ele de bandido

Criminoso e delinquente

O leão passava as garras

Mas um pouquinho ele entrava

E xingava novamente

O leão muito nervoso

Não podia acreditar

Matava até elefante

Pra um grilinho arregar?

Então o grilo contente

Fez a proposta indecente

Igual a gente faz cá

Vou convidar meus parentes

Que são os invertebrados

Vamos fazer uma guerra

Cada um fica dum lado

Você pode trazer tudo

Traga aquele boi chifrudo

E seu parceiro veado

O leão lambeu os beiços

E pensou: vou te comer

Ligou pro tigre e pra onça

Pra lontra e pro saruê

Ligou pro tamanduá

Disse parceiro vem cá

Pode a bandeira trazer

Ligou também pro quati

E para suçuarana

Convidou o porco espinho

E pra cobra caninana

Ligou pra toda floresta

Veio também com modéstia

O comedor de banana

Dali da fenda o grilinho

Pra se livrar do leão

Convidou todos insetos

Da sua jurisdição

Cada um com o seu bando

Na hora eu dou o comando

E vocês atacarão

Então veio todos bichos

Sem coluna vertebral

Um grande enxame de abelha

Vinda dum oco de pau

Até carrapato estrela

E palangana vermelha

Do ninho dum bacurau

Tinha exame de abelha

Da Europa e africana

Caranguejeira escondida

Dentro da moita de cana

Até marimbondo exu

Piolho de cururu

E pulga preta baiana

Veio também caracol

Lesma, e até joaninha

Um besouro fedorento

Que na testa um chifre tinha

E também o grilo azul

Um piolho de urubu.

E calenga de galinha

O sol de 40 graus

Pois era bem no verão

Os maribondos nervosos

Já preparando o ferrão

Até lagarta de fogo

Também entrou nesse jogo

Pra derrotar o leão

Na hora certa que o grilo

Viu que tava preparado

Tremeu a asa bem forte

Fez um barulho danado

Então naquele momento

Foi muito grande o tormento

Pros animais vertebrados

Pois o exame de abelhas

Atacou logo o leão

Lêndea pulga e carrapato

Na juba do valentão

E o marimbondo exu

Picou na beira do cu

Que doeu no coração

O leão pulava doido

20 metros de altura

Com o fiofó queimando

E a boca toda dura

O grilo achava um barato

Leão miava igual gato

E não parava a tortura

Caranguejeira atacava

Com ajuda de barata

Elefante agoniado

Sumiu no meio da mata

E o tigre de bengala

Foi parar dentro da sala

Da casa da maritaca

Os animais vertebrados

Sem saber pra onde ir

Pularam dentro dum lago

Que tinha perto dali

Leão achou uma sunga

Cheinha de sanguessuga

Do finado javali

O leão voltou tristonho

Naquele mesmo lugar

Para ver se o grilinho

Ainda estava por lá

Mas o grilo fez fiapo

Entrou em outro buraco

Pra do leão caçoar

Mas o leão quase cego

E a cara toda inchada

E no pé do rabo dele

Uma ferida danada

Com um jeito moribundo

Disse é o fim do mundo

A guerra ta acabada

Aqui vai meu comentário

Que vem do fundo do peito

Que nem todo branco é santo

Nem todo negro é suspeito

Nem todo bandido é réu

Que levante seu troféu

Quem não tem nenhum defeito

O grilinho perguntou

Vamos fazer outra guerra?

O leão perdeu a pose

Nos quatros pés faltou terra

E disse Deus me defenda

Sumiu daquela fazenda

E assim o caso encerra.

joãocorin
Enviado por joãocorin em 27/05/2012
Reeditado em 28/05/2012
Código do texto: T3691032