“PESCADOR”
Valdemiro Mendonça.
Pois eu sou é pescador,
E pesco é por profissão.
Nasci na beira do rio
Chamado Manhuaçu,
Nome do lugar é estio
Bem perto de Tobeçu.
Lugar de paz e amor
E cresci naquele chão,
Pois eu sou é pescador
E pesco é por profissão.
Doze anos já escolado
Fosse no calor ou frio,
Eu só ficava é pelado.
Balçando tora no rio
Jogada pelo cortador,
Não gosto de patrão.
Pois eu sou é pescador
E pesco é por profissão.
Parei com a madeira,
Eu ficava era com dó
Sumiu a mata inteira.
Minha cabeça deu nó
O povinho é sem amor
Não ajudo na judiação,
Pois eu sou é pescador
E pesco é por profissão
Peguei o anzol e linha
E eu comecei a pescar.
Logo uma fama minha,
Começou a se espalhar,
Pescando sou é doutor
Igual existe outro não.
Pois eu sou é pescador
E pesco é por profissão.
E numa noite de sorte,
Eu fisguei uma traíra
E só vi esta deste porte,
Creia-me não é mentira,
Era grande dava pavor
Foi grande esta emoção
Pois eu sou é pescador,
E pesco é por profissão.
Não sei com certeza,
O seu tamanho exato
Do couro desta beleza
Fiz milhão de sapato,
E eu tive de dar valor.
Ao couro deste peixão
Pois eu sou é pescador
E pesco é por profissão.
As escamas da traira
Não existe falcatruas.
De S. Paulo a Guaíra,
Calçou todas as ruas
Sem falar de Salvador,
E nem de monte Sião,
Pois eu sou é pescador
E pesco por é profissão.
M. Gerais fez a ponte.
No rio da cambuquira
Metrô de B. horizonte,
Trilho é osso da traíra.
Na praia do Arpoador
Tem é osso no calçadão.
Pois eu sou é pescador
E pesco é por profissão.
Carne dei a cuiabanos,
Mandei em exportação.
Pra suprir americanos,
Brigando no Paquistão.
Inda tem no congelador
Pra ir pro Arzerbaijão.
Pois eu sou é pescador
E pesco é por profissão.
Na pescaria sou colosso
Não minto juro ao santo.
Sobrou carne pro almoço
Pros poetas do recanto.
Não faço nenhum favor
Dou a carne de coração
Pois eu sou é pescador
E pesco é por profissão.
Trovador.