APRENDENDO A ESCREVER CORDEL
(Agradeço ao poeta Airam Ribeiro pelo artigo precioso que me enviou!)

http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=5500


 
 
 
MEU JESUS CRISTINHO ME ABENÇOA
NUM SEI SE VOU AGUENTAR
ESSE TANTO DE REGRINHAS
EM MINHA CABEÇA GUARDAR!
NÃO TENHO NEM O ESTUDO
E AINDA POR CIMA SOU LOURA
MAS JURO QUE VOU TENTAR!
 
CASEI-ME MUITO MENINA
AINDA CHEIRANDO A LEITE
VIERAM LOGO FILHINHOS
ORGULHO E MEU DELEITE
COMO AMO A POESIA
E NÃO TRAGO NENHUM DIPLOMA
SÓ DA VIDA, O MEU ACEITE
 
NOS POEMAS QUE ESCREVI
NÃO SEGUI MÉTRICA ALGUMA
INSPIRADA ME SENTI
DEIXEI-OS FLUIR SEM TORTURA
SÃO CRIAS DE MINHAS ENTRANHAS
DIZEM O QUE DIZ A MI'ALMA
MESMO QUE SEJAM ESTRANHAS
 
 
VOU TENTAR SEGUIR AS REGRAS
MESMO ACHANDO DIFÍCIL
SOU TEIMOSA E NÃO NEGO
ACHO QUE NASCI PARA ISSO
NÃO TENHO MEDO DE ERRAR
QUANDO ASSUMO UM COMPROMISSO
VOU APRENDER POETAR!
 
 
POR AGORA É O QUE DIGO
NOBRE POETA DE ALMA
AGRADEÇO DE CORAÇÃO
POR SUA GENTILEZA E CALMA
EM TER TANTA PACIÊNCIA
EM QUERER ME ENSINAR
A BELEZA DE UM CORDEL
QUE APRENDI A AMAR!

Airam Ribeiro
 
Cumade nun se estréça
Nun s aprende tudo d’ua vêiz
Premero a gente começa
Depois vem a sentatêz
A gente vai aprendeno
Depois qui fô fazeno
É cuma jogo de xadrez!
 
A sióra já sabe fazê
Isso é qui é importante
Nun falo nem tô pra dizê
Os erro dos principiante
A criança pra caminhá
Primeiro vai ingatinhá
Senão num vai adiante.
 
Errano é qui se aprende
Aprendiz, semos sim sinhô!
A queda pra quem entende
Ajuda a quem levantô
Lis da mais humildade
Cum o tempo e cum a idade
A maturidade ele axô.
 
Toca o barco pra frente
Mais nun se precupe não
O tempo insina a gente
Nas passage das estação
Vai divagá cum o andô
Pois nun izéste professô
Qui nun erra no salão.
 
Os véi nos incina
Tê coidiado cum a melodia
E tomém cum as rima
Pra nun tirá as aligria
Pois de acordo o contexto
Sem rima pra eles é texto
Os que dizem qui é poesia.
 
Já dizia o Patativa
Qui nasceu em Assaré
Qui os qui tão na ativa
Aprende fazê bom cordé
Se tê vontade tamanha
Nóis vai subi a montanha
É só botá um pôco de fé.


 Participação do poeta Silva Filho ( Obrigada!)
 
Inda bem que no contexto
Há uma Rosa Serena
Que pretende no cordel
Conversar com Açucena
Chegando assim de sextilha
Pode seguir nessa trilha
Porque vai valer a pena


 
 
 
DECÁLOGO DE METRIFICAÇÃO


1) - As sílabas são contadas até a última tônica do verso.
2) - As pontuações não impedem as junções de sílabas.
3) - Não se deve fazer o aumento de uma sílaba métrica nos encontros
consonantais disjuntos, (ou seja: não usar "suarabacti").
4) - Uma vogal fraca faz junção com a vogal fraca ou forte inicial da
palavra seguinte.
§ único - Aceitam-se exceções a esta regra no sentido de evitar a formação
de sons duros e desagradáveis.
Exemplo: "cuja ventura/única consiste".
5) - Uma vogal forte, pode ou não, fazer junção com vogal fraca da palavra
seguinte, no entanto jamais deve fazê-la com vogal forte.
§ único - Nos casos em que se prefira a junção "forte + fraca", deve-se ter
sempre o cuidado de evitar sons desagradáveis ("mais que tu/ardo") ou formar
novas palavras ("via ao invés de "vi a...").
6) - Pode haver a junção de três vogais numa sílaba métrica.
§ 1º - Não deve haver mais de uma vogal forte.
§ 2º - No caso em que a vogal forte não esteja colocada entre as vogais
fracas e sim em 1* e 3* lugar, para que seja correta a junção, as duas
vogais fracas devem juntar-se por crase ou por elisão, e não por sinalefa
(ditongação). Assim, estará certo:
"é a ambição que nos prende e nos maltrata", e não se pode unir as três
vogais de "e a / íntima palavra derradeira".
§ 3º - Deve ser usada com cuidado a junção de mais três vogais, embora haja
casos corretos de quatro e até de cinco vogais.
7) - Os ditongos aceitam as prejunções com vogais fracas ("E eu"). As
postjunções são aceitas somente nos ditongos crescentes (encontros
instáveis) ("a distância infinita") e são repelidas nos ditongos
decrescentes. ("Eu sou/a que no mundo anda perdida").
§ único - Há casos de uso facultativo de prejunção de vogais forte aos
ditongos, quando essas vogais são as mesmas dos iniciais dos ditongos e não
forem as tônicas das palavras. (Aceita-se: "Será auspiciosa" e será
inaceitável: "Terá/auto nos pontos".
8) - Nos encontros vocálicos ascendentes (formados por vogais os semivogais
átonas seguidas de vogais ou semi-vogais tônicas), a sinerese é de uso
facultativo. ("ci-ú- me" ou "ciú-me", etc.).
§ único - Há neste grupo, excepcionalmente, encontros vocálicos que não
aceitam a sinérese. Geralmente, são formados pela vogal "a" seguida das
vogais "a", ou "e" ou "o" (como em: Sa/ara, a/éreo, a/orta, etc.) ou, alguns
casos, do mesma vogal "a" seguida das semi-vogais "i" ou "u" tônicas, como
em: "Para/íso, "ba/ú", etc.
9) - Nos encontros vocálicos descendentes (formados por vogais ou semivogais
tônicas seguidas de vogais ou semi-vogais átonas) não se aceita a sinérese
("tua", "lua", "frio", "rio" etc., sim, "tu/a", "su/a","fri/o", "ri/o", etc.
§ único - Em algumas regiões do Brasil é usada a sinérese nestes encontros
vocálicos, com base na fonética local. No entanto, não será aceita na
Metrificação, em benefício da uniformidade, uma vez que na maioria dos
Estados é feita a separação dessas vogais.
10) - 0 uso da aférese ("inda", etc), síncope ("pra", etc), apócopes ("mui",
e de ectilípse ("com a", "o", "as", 'os") é facultativo.
§ 1º - A junção de "com" mais palavras iniciadas com vogais átonas é correta
mas pouco usado. Acompanhando a maioria dos poetas, sempre que possível,
deve ser evitada. ("com amor") etc.
§ 2º - A junção de "com" mais palavras iniciadas com vogais tônicas não será
aceita. ("com esta" etc.).
§ 3º - A junção de fonemas anasalados "am", "im", etc., com vogais átonas ou
tônicas não será aceita. ("formaram" / idéias", "cantaram / hinos" etc.).
§ 4º - E preciso cuidado com o uso de aféreses, síncopes e apócopes que, por
estarem em desuso ou por formarem, geralmente, sons desagradáveis, irão
ferir a sensibilidade e os ouvidos dos leitores e dos ouvintes.
GLOSSÁRIO - Por ordem alfabética, para melhor compreensão do Decálogo de
Metrificação.
Aférese - supressão de sílabas ou fonema inicial ("/inda").
Apócope - supressão de sílaba ou fonema final ("mui"//").
Crase - fusão de duas vogais numa só ("a alma"; "e este" etc.).
Dierese - transformação de um ditongo num hiato ("sa/u-da-de").
Ditongo - fusão de uma vogal + semivogal, ou vice-versa; na mesma sílaba.
("sai", " falei", "Niterói", etc.).
Ditongo crescente - semivogal + vogal (pátria, gênio, diabo, etc.).
Ditongo decrescente - vogal + semivogal (pão,meu, dourado, etc.).
Ectipe - supressão de um fonema nasal final para possibilitar a crase ou
ditongação (sinérese) com a vogal inicial da palavra seguinte. ("com o",
"com amor", etc.).
Elisão - supressão da vogal átona no final de uma palavra. ("Ela estava" =
"Elistava").
Encontros consonantais - duas consoantes unidas:
a. inseparáveis - ("bl" - bloco; "fl" - "flor", etc) ou "grupos
consonantais",
 2.. separáveis - ("gn" - ignóbil; "bs" -Observar) ou "encontros
consonantais disjuntos".
Hiato - uma sílaba terminada, por vogal-base seguida de outra iniciada
também por vogal-base. ("re/eleger", ca/olho, a/éreo, etc.) (Rocha Lima); é
o encontro de duas vogais pronunciadas em dois impulsos distintos, formando
sílabas diferentes. (sa/ara, podi/a, sa/úde, etc.) (Cegalla).
Encontros vocálicos ascendentes - designação de Luiz Otávio - é o encontro
de duas vogais ou semivogais, pronunciadas separadamente, sendo a primeira
fraca e a segunda forte. (ci/ú-me, vi/o-la, po/e-ta, cru- el-da-de, etc.).
Encontros vocálicos descendentes - designação de Luiz Otávio - é o encontro
de duas vogais ou semivogais, pronunciadas separadamente,
Junção a primeira forte e segunda fraca. ("di/a", "tu/a", "ri/o" , etc.).
Junção - designação de Luiz Otávio - no sentido generalizado para traduzir a
união de sílabas métricas, Abrange pois, os diferentes processos de
diminuição de sílabas poéticas. (comumente e erradamente empregada pela
maioria dos poetas como elisão). Ver no Glossáuro, os vários processos ou
métodos para diminuir as sílabas métricas ou processos de fazer a junção de
sílabas: crase, elisão, sinalefa, sinérese, alferese, síncope, apócope e
ectipse.
Postjunção - designação de Luiz Otávio - junção posterior a uma sílaba ou
palavra.
Prejunção - designação de Luiz Otávio - junção anterior a uma sílaba ou
palavra.
Semivogais - são os fonemas "i" e "u", quando ao lado de uma vogal formam
uma sílaba com elo. (Assim em: "pai", "mau", o "i" e o 'u" funcionam com
valor de consoante, em "lu-ta", vi-da", funcionam com função de vogal).
Sílaba ou métrica ou poética - são sílabas nos versos, (contagem diferente
das sílabas gramaticais).
Sinalefa - fusão ou junção de vogais ou semivogais, entre duas palavras,
formando ditongo (Este amor" = "Estiamor").
Síncope - supressão de fonema ou sílaba no meio da palavra ("p/ra").
Sinérese - transformação de um hiato em ditongo, na mesma

palavra. ("ci-úme"
em ciú-me".
Suarabacti - "aumento de uma sílaba métrica, pela pronúncia das vogais de
apoio, nos encontros consonantais disjuntos". (Luiz Otávio) "i-gui-no-rar".
Tônica - sílaba forte, acentuada.
Vogais - "Fonemas sonoros, que se produzem pelo livre escapamento do ar pela
boca e se distinguem entre si por seu timbre característico", (Rocha Lima).
Vogal forte ou fraca - a vogal átona ou acentuada (tônica) da palavra ou
verso.
TROVAS DEMONSTRATIVAS DA APLICAÇÃO DAS DEZ REGRAS DA METRIFICAÇÃO
Estas trovas foram feitas para demonstrar os diferentes casos de aplicações
das dez regras da metrificação. Têm, pois, finalidade didática. Devemos
observar em cada uma, pela numeração, aplicação correspondente. O conteúdo
não tem relação com as regras, mas tão somente com as formas das trovas. O
fundo está relacionado com as mensagens generalizadas sobre os estudos de
Metrificação. Portanto, julguem-nas como utilidade didática e como
curiosidade, e não corno valor artístico.
(Luiz Otávio - Santos, 26/03/1974).
1ª regra - última tônica
Poderá a força elétrica
de um sábio computador
ensinar contagem métrica
mas não faz um trovador...
2ª regra - pontuação
Pensa em calma! Evita errar,
Injusto é se nos reprovas,
Pois não queremos mudar
o modo de fazer trovas
3ª regra - encontros consonantal
Você pode acreditar
ter a pura convicção
que a ninguém vou obrigar
a ter a minha opinião...
4ª regra - vogal fraca + fraca
Podes crer és muito injusto

e estás longe da verdade:
pois na trova a todo custo
defendo a espontaneidade...
5ª regra - vogal forte+ fraca
É uma história bem correta
em tudo o ensino é preciso,
no entanto, só poeta
quer ser gênio de improviso...
6ª regra - junção de três vogais
 Esta é uma regra indiscreta,
convenções, mal amparadas,
induzem muito poeta
a convicções enraizados.

7ª regra – ditongos

Para medir nossos versos,
se o ouvido fosse o juiz,
em nossos metros diversos
ninguém poria o nariz...
8ª regra - encontros vocálicos ascendentes
Na trova, soneto ou poema,
em toda parte do mundo
se a Forma é o seu dilema
sua alma é sempre o fundo!
9ª regra - encontros vocálicos descendentes
As dúvidas são pequenas
não sejas tão pessimista,
dá-me a tua ajuda, apenas,
e será bela a conquista.
10ª regra - licenças: aféreses, síncopes, apócopes, ectlipses.
É mui// feio crificar(apócope)
/inda que seja um direito (aférese)
pra ser justo, aulas vem dar (síncope)
com o teu plano sem defeito... (ectlípse)
Frase mnemônica para decorar as dez regras de metrificação:
"Tendo paciência e Estudo você versejará tecnicamente direito encontrando
estética e lirismo."
(T = tônica; p = pontuação; e = encontros consonantais; v = vogal fraca; v =
vogal forte; t = três vogais; d = ditongos; e = encontros vocólicos
ascendentes; e = encontros vocálicos descendentes; l = licenças poéticas).


Luiz Otávio


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ROSA SERENA e AIRAM RIBEIRO
Enviado por ROSA SERENA em 23/05/2012
Reeditado em 26/05/2012
Código do texto: T3684324
Classificação de conteúdo: seguro
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