Zé Vaqueiro de Maria - O Peão de Rodeio
ZÉ VAQUEIRO DE MARIA – O PEÃO DE RODEIO
Estrofes de 7 versos.
Vou aqui contar uma história
que me aconteceu um dia,
foi nos tempos d’eu vaqueiro,
que só lembrar me arrepia,
domava touro na raça
e não havia na praça
torneio qu’eu não vencia.
Minha gente escute a prosa,
pois sou um homem honesto,
nunca faltei com a verdade
e não sou “cabra” indigesto,
mas se me tiram do sério
falo até em cemitério,
este é o meu manifesto.
Amigo leitor se acalme,
não quero lhe fazer mal,
continue sua leitura
dessa história sem igual,
mas peço: não me aborreça!
Se não eu perco a cabeça
e era uma vez um mortal.
Voltemos nossa atenção
para o que aqui interessa,
contar um fato de vida,
mas aviso: vou sem pressa,
se não me esqueço de tudo
e chego “inté” ficar mudo,
curando só com promessa.
Certa feita estava eu
numa cidade afamada,
pois fui lá participar
de uma grande tourada,
com prendas mui valiosas
e muitas moças formosas,
igual princesa encantada.
Veja você, meu amigo,
como se deu a empreitada
naquela cidade grande
com tanta gente enfeitada,
e todos ali contentes
pra festejar os valentes
heróis das grandes “tourada”.
Quero dizer nestas linhas,
para o leitor se informar,
que eu um pobre vaqueiro
passei aperto por lá,
naquela cidade em festa,
pois até “jeção” na testa
o cabra tem que pagar!
Digo aqui para o registro
que não passei fome não,
levei comigo um pedaço
de queijo e bom requeijão,
além de açúcar de cana
e uma cachaça à paisana
pra rematar refeição.
Minha gente, meus amigos,
chegada que foi a hora
de começar minha luta,
pedi pra Nossa Senhora,
proteção com o seu manto
e intercessão ao Pai Santo,
enquanto lustrava espora.
Sendo eu um forasteiro
e ali mui desconhecido,
me botaram já no começo
julgando ser desvalido,
mas quando abriram a porteira
o touro deu uma “carrera”
e eu fiquei incontido.
Chamei a espora pra dentro
das ancas do animal
e o bicho saltou de lado
“meaçou” me fazer mal,
mas com Jesus na minha frente
não há touro que me agüente,
do franzino ao colossal!
Passado os 8 segundos
q'eu tinha para mostrar
se era ou não bom na luta
para adiante avançar,
saltei do lombo do touro
e povo todo em couro
meu nome pôs-se a gritar.
- Viva o peão forasteiro,
Zé Vaqueiro de Maria.
Viva esse homem valente
que hoje trouxe alegria!
E o povo todo gritava
e eu inda mais empolgava
“pensano” em minha “famia”.
Naquela bendita hora
com todo aquele alardeio
eu me senti confiante,
e disse: eu venço o rodeio!
Bastava q’eu continuasse
e em todo boi que montasse
eu tinha que “botá” freio.
Então chegou novamente
a minha vez de lutar,
foi quando em segunda vez
lá fui de novo a montar,
e sem sair do enredo,
lhes conto aqui um segredo
eu quase morri por lá!
Estava eu na peleja
c'um bruta touro arretado.
O bicho se sacudia,
corria de lado a lado.
E não sobrou um só canto,
pois o infeliz pulou tanto,
mas eu venci o danado.
Esta foi segunda noite
naquela arena de festa,
e nem meu velho chapéu
ficou parado na testa,
depois foi só alegria
com dança e cantoria.
Que beleza de seresta!
Caro leitor, fique atento,
não tire os “óio” da reta,
desta minha narrativa
e siga sempre tua meta:
de terminar a leitura
dum fato de mui bravura
deste vaqueiro e poeta.
Chegando o terceiro dia
daquele grande rodeio,
e o povo se perguntava
quem venceria o torneio,
pois ao fim daquela festa,
vaqueiro bom é quem resta
e os outros só foi recheio.
E então eu fui chamado,
a arena estremeceu.
O povo todo aplaudia
gritando o nome meu.
Vejam só como é a sina
d'um homem que se ilumina,
depois que quase morreu.
Parti pra cima do touro,
ajeitando espora e bota,
pois era chegada a hora
(e longe d’eu a derrota)
naquela noite estrelada
e a lua bem prateada,
foi quando o mestre deu nota.
E então se abriu a porteira
e o touro pôs-se a pular.
Pulava tanto de lado,
chegando a rodopiar
mais parecia um tornado
que boi de arena treinado
para peão derrubar!
E aquela luta sem trégua
parecia não ter fim,
pois o tempo não passava
e já me doía os “rim”.
Foi quando pedi a Deus,
lembrando dos filhos meus:
deixe eu "vortá interim”!
E nesta hora bendita
as minhas “força” animaram.
Juntei esporas no touro,
e todos ali gritaram:
- Este vaqueiro é valente!
E eu só me vi sorridente
foi quando o fim “nunciaram”.
Agora, caro leitor,
começava a decisão
que dependia das notas
d’um pomposo pelotão,
pois era a vez dos “juiz”,
com seus “quadro” e o giz
dar a sua opinião.
Informo ao leitor atento,
que na última montaria
todo peão que montava,
uma nota registraria
por todo tempo corrido
e também se o destemido
alguma graça faria.
E os “juiz” demoraram
para dizer resultado,
parecia um tormento
pior que quando montado.
Mas nas mãos do Salvador,
entreguei todo temor,
então fiquei acalmado.
A arena tava em silêncio,
parecia até vazia.
Foi quando anunciaram,
que um juiz falaria.
E ao belo som de um berrante,
chamaram em tom empolgante:
- Zé Vaqueiro de Maria.
E o povo todo aplaudia
gritando meu nome em pé:
- Viva o vaqueiro valente,
pois mostrou que tinha fé!
E agora só resta o adeus
fiquem todos c’o Bom Deus,
até mais, té logo, inté!
Santana, Silvio S. (o Vidal) – 22/05/2012