Vim aqui pra te buscá / interação de Hull de La Fuente

Vim aqui pra te buscá.

Airam Ribeiro

Tempestade e vento forte

Relampo riscando o céu

Trovão para minha sorte

Medrontava o tabaréu

O medo invadino a alma

Fui perdeno a minha calma

Que cito neste cordéu.

Quando o vento se soprava

Lá pra fora do meu quintá

Vinha uma voz qui falava

Vim aqui pra te buscá

Noite iscura cum relampo

Nun se via um pirilampo

Só truvão pra medrontá

Eu lá na cama incuido

Sozinho sem tê ninguém

Ouvino a voz e gemido

Pareceno voz do além

Lembrei de Chiquinha qui morreu

E aqui sozinho ficô eu

Só as lembrança é qui vem.

Agora aquela voiz

Na noite de tempestade

Eu alembrava qui nóis

Vivia a filicidade

Será se vortô a Chiquinha?

Mais nun é mardade minha

Ir cum difunto sem vontade!

E cada vento qui dava

Lá de fora do quintá

Aquela voz min falava

Eu vim pra te buscá

E lá na cama eu tremia

Inté o coxão sacudia

Era um terrô de daná.

Viveno sem tê ninguém

Há muitio tempo sem muié

Derna qui foi pro além

A Chiquinha de Catulé

Pra ela faço as oração

Min axo qui né ela não

Ela era uma pessoa de fé.

Téquinfin a noite passô

O sol veio intão clariá

Mais travêiz a voz ecoô

Vim aqui pra te buscá

Já claro fui inté aquela voiz

Quando vi!!... eita nóis!

Nun era de quem tava a pensá.

Um elipê do Soriano

Qui tava todo riscado

Joguei fora pur ingano

E nun gaio ficô pindurado

Quando a gaia sacudia

Aquela voz se ripitia

E no ispin era tocado.

De medo só nun murrí

Pruquê ca no meu sertão

Esses povo qui mora aqui

Diz qui eu sô muitio maxão.

Só num min venha pra cá

Cum um disco a ranhá

Cum vento relampo e truvão!

Meus fantasma preferidu...

(Hull de La Fuente)

Meu cumpadi a sua istória

Di fantasma i assombração

Trouxi na minha memória

Noiti iscura cum trovão.

Nus meu pavô di infância

Teve muita relevância

No sítio lá do sertão.

Indesde muito piquena

As alma vinha mim vê

Óia qui mim dava pena

Os semblanti di sofrê.

Via as alma transparenti

Oianu tristi pra genti

Quase u prantu a iscorrê.

O mêdu faiz genti vê

I iscuitá intê correnti,

Di genti qui foi morrê

Pramodi assustá a genti.

Feiz ocê todu incuído,

Nus cubertô iscundidu,

Num medu quase indolenti.

No causu cocê contô

Num tevi fantasma não

Só um discu qui arranhô

Provocanu cunfusão.

Nem a pesti da Chiquinha

Qui frita virô galinha

E tira-gosto du cão.

Uviu um discu arranhadu

Ripitinu a mesma fala

Lhi dexô apavoradu

Numa paúra cavala.

E o Vardik Sorianu

Qui tomém mudô di planu

Si ritorcia na vala.

Mai fiquei priocupada

Ca citação da Chiquinha

A pesti disarvorada

Qui dava mais qui galinha.

Citá-la num é modelu

Pra mim é um pesadelu

Da noiti tristi e suzinha.

Continui ocê rezanu

Pra tê noiti mais tranquila

I us fantasma afugentanu

A fé u medu aniquila.

Us meu medu di minina

Hoji im dia si distina

Às lembrança di família.

Aquelis fantasma antigu

Du olhá quase tristonhu

Foru s’imbora, us amigu,

Pra mim tudu virô sonhu.

Hoji incontrei a Luz

Na Pessoa di Jesus

Qui afugentô u medonhu.

GOSTEI DEMAIS DESSE CORDÉ MINHA CUMADE

Cumade Milla Perêra

UM ÔMI MUITIO ISTRANHU

Cumpádi, a sua istória,

Arripiou us meus pelu.

Atissei minha memória

Lá na ponta du nuvelo.

Mi alembrei de um causu

Qui mereci us aprauso

Di garantia, tem selo!

Lá na piquena cidadi

Ondi um dia eu nasci.

Que mi enchi di sodádi

Pois faiz tempo qui eu parti.

Iscuitei, desdi criança

Istóras na vizinhança

I vô contá uma qui ouvi!

U seu Juão da cachaça,

Dono da venda da isquina.

Gostava duma trapaça

Num respeitava as minina.

Todo mundo qui chegava,

Nu barcão si incostava

Pra tumá u’a cagibrina.

Eli sirvia us freguês

Mas armentava a conta.

De 5, ponháva 6,

Cum a maió disafronta.

U criente recramava

Mais eli sempre jurava

Quinté feiz uma disconta.

Mai um dia s’incostô

Na berada du barcão.

Um elegante sinhô

Qui pidiu u’a porção

Juão foi buscá a cachaça

Sirviu pru ômi u’a taça

Di cagibrina e limão.

O tár sinhô eleganti

Bebeu u istoqui interu

Juão ficô cunfianti

Di fazê um bão dinhêru.

Mai cuânu Juão si virô

Num viu mais u tár sinhô

E si borrô pur intêru.

Juão ficô dizassustadu

U butecu quaiz faliu.

U tár ômi apessuadu

Im ninhum lugá si viu.

Juão aprendeu a lição,

Ôji é um ômi bão

I cum ninguém mais buliu!

Era o fantasma de Nêra

Airam Ribeiro

Cumade esse seu homi

Foi um fantasma verdadêro

Qui na terra teve o nome

De Nêra o manguacêro

Neça época qui ocê falô

Inda min lembro foi horrô

Na cidade de Juazêro.

Perto dum pé de juá

Nas caatinga do sertão

Tinha uma carnêra pur lá

Qui a noite tinha vizão

Os povo qui ali passava

Xegava na cidade contava

Dava inté ilustração.

Dum fantasma bebeno

Dento daquela carnêra

Pelo quelis ia dizeno

Falo aqui nun é asnêra

E pelo que o povo falava

Aqui cumigo já pensava

Era o difunto de Nêra.

Na carnêra solitária

Debaxo do pé de juá

Lata de ceuveja Bavária

Ocê pudia incrontá

De dia nun se via ninguém

Devido de ta no além

Só a noite é qui tava cá.

Os povo falava assim

De acordo sua vizão

O fantasma nun tinha bigulin

Pois ninguém não via não

Era mermo o Nêra

Falo e nun é asnêra

Qui foi interrado nessa região.

Um dia o Nêra pulô

Uma cerca de arame farpado

E no pulo se lascô

Pelo arame foi cortado

Os bago e o bigulin ficô

Então ali depindurado.

Cum o sangue qui guinxava

O corpo de Nêra foi muleceno

Os povo qui ali passava

Inda viu o Nêra morreno

Botáro ele no caixão

E interráro no xão.

E dos órgão foi isqueceno.

E desse dia intão

Todo mundo pudia vê

Um fantasma nos barcão

Sem o bigulin a mexê

E o fantasma sem graça

O jeito foi bebê caxaça

Pra dos seu orgão isquecê.

Airam Ribeiro

Cumade esse seu homi

Foi um fantasma verdadêro

Qui na terra teve o nome

De Nêra o manguacêro

Neça época qui ocê falô

Inda min lembro foi horrô

Na cidade de Juazêro.

Perto dum pé de juá

Nas caatinga do sertão

Tinha uma carnêra pur lá

Qui a noite tinha vizão

Os povo qui ali passava

Xegava na cidade contava

Dava inté ilustração.

Dum fantasma bebeno

Dento daquela carnêra

Pelo quelis ia dizeno

Falo aqui nun é asnêra

E pelo que o povo falava

Aqui cumigo já pensava

Era o difunto de Nêra.

Na carnêra solitária

Debaxo do pé de juá

Lata de ceuveja Bavária

Ocê pudia incrontá

De dia nun se via ninguém

Devido de ta no além

Só a noite é qui tava cá.

Os povo falava assim

De acordo sua vizão

O fantasma nun tinha bigulin

Pois ninguém não via não

Era mermo o Nêra

Falo e nun é asnêra

Qui foi interrado nessa região.

Um dia o Nêra pulô

Uma cerca de arame farpado

E no pulo se lascô

Pelo arame foi cortado

Os bago e o bigulin ficô

Então ali depindurado.

Cum o sangue qui guinxava

O corpo de Nêra foi muleceno

Os povo qui ali passava

Inda viu o Nêra morreno

Botáro ele no caixão

E interráro no xão.

E dos órgão foi isqueceno.

E desse dia intão

Todo mundo pudia vê

Um fantasma nos barcão

Sem o bigulin a mexê

E o fantasma sem graça

O jeito foi bebê caxaça

Pra dos seu orgão isquecê.

Esse fantasma cumade

Muitos buteco já quebrô

Ele xegava na cidade

Sem pensá nos bar já entrô

Todas bebidas pidia

Virava puêra e saia

Cuma quem se evaporô.

Pur nun tê sua curnixa

Conta-se qui o fantasma Nêra

Cum suas colega bixas

Andava na bebedêra

Outro fantasma min contô

Quando do além xegô

Dia treze sexta fêra.

Airam Ribeiro
Enviado por Airam Ribeiro em 14/05/2012
Reeditado em 15/05/2012
Código do texto: T3667103
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