O relógio qui rodô ao contrário para mim
Era um véi quando eu nasci
Aqui neste meu sertão
Minha história eu cunhici
Cuma a palma de minha mão
Nasci todo inrrugado
Mal feito muito cabado
Isso ninguém isplica não.
Tarvêz defeito de DNA
Ô arguma coisa quarqué
Só sei qui naquele lugá
Eu tinha a cópia fié
De um veio de oitenta ano
Piquenin imbáxo dos pano
Da cabeça inté os pé.
Nos meu dizoito janêro
Eu já min representava
Um vein mais cabrêro
E cinqüenta aparentava
As muié de min fugia
Eu fui perdeno a aligria
Pois elas de mim fastava.
Era eu ficano novo
E elas se velheceno
Para mim era um estorvo
E nessa vida fui viveno
Já xegano os quarenta e três
Uma moça de trinta e três
Pra mim tava apariceno.
Depois de tempos passado
Nóis se casemo na igreja
Aí mim axava já casado
E consumado a peleja
E cada ano qui passava
Mais velha ela já estava
E eu novo, ocê veja!
Ela já toda inrrugada
Cunseguiu ingravidá
A polêmica já criada
Xemêi ela pra falá
Cada dia fico mais novo
Tô pra ocê um estorvo
Cuma o caso vai ficá?
Daqui uns tempo sô minino
E ocê véia ta ficano
Cum pôco tempo meu distino
É ta imbáxo dos pano
Ocê intão vai min da bãin
De isposa vorta a cê mãe?
As coisa ta fora dos plano!
Quando eu fiquei piquininin
Foi qui eu vi o inferno
Eu já ficano fraquin
Percizava de leite materno
Cumo leite véia nun dá
A morte vêi min buscá
Para o Oriente eterno.
A duença ninguém discubriu
Rimédio ninguém incrontô
O relógio do tempo sumiu
E quem ao contrário acertô
Os pontêro pra trás rodava
Os novo velho ficava
E os velho novo ficô.