O dia que o cão virô santo
Airam Ribeiro
Bem longe além daqui
Lá atravéis da iscuridão
Qui nun cabe aqui eu descuti
Onde era mermo a região
Bem longe no mêi da floresta
Existia a cidade deserta
De uma tribo em extinção.
Uma nave ispaciá se zarpô
Lá pra riba do azú nas artura
Um astronauta era guardadô
De pequenas escurtura
Era image de cão e santo
Todo pintadin um incanto
Era coleção formozura.
Lá de riba a ventania
Na jinela da nave entrô
Sacudiu de tudo qui lá tinha
E a coleção pro ispaço vuô
Eu conto aqui é divéra
E além da atimosfera
As image nas orbita entrô.
E o xamado lixo ispaciá
A noite ficava lumiano
Um dia de tanto orbitá
Conto aqui nun ingano
Em um dado momento
Ne um duns dislocamento
Uma das image foi intrano.
E na atimosfera entrô
Pelo vácuo da imensidão
Em tóxa de fogo virô
Formano aquele clarão
Mas já dava pra percebê
Qui aquela image a descê
Era a image do cão.
E na floresta tamanha
A image candescente
No mêi da tribo estranha
Foi caino lentamente
A tribo toda se ajuelhô
Quando infim ela xegô
A image reluzente.
Ao caí ouve o estouro
Fazeno um buraco no xão
E no buraco o ouro
Apareceu de montão
A image foi recebida
Com as omenage devida
Com oferenda e canção.
Digo aqui de passage
Qui um artá fizéro intão
Para botá a image
A escultura do cão
E toda tribo ia lá vê
Para o ouro agradecê
Ali dento dum salão.
Axano qui vinha do céu
Nas artura da imensidão
Eu falo neste cordéu
De um cantinho do sertão
Que o poeta no entanto
Fêiz o cão virá santo
Pra uma tribo em extinção.
Para o mau intendedô
Intenda cuma quizé
Foi feito pelo escultô
Em algum dia quarqué
É um cãozinho sorridente
Qui agrada a muita gente
Nun é o cão lucifé!