MEU SERTÃO - INTERNET, PARABÓLICA E JEGUE MOTORIZADO
Sou poeta camponês
Forjado lá no sertão
De berço eu trago a rima
Da lida a inspiração
A herança valiosa
Que tenho desse quinhão
Versejo quando estou triste
Mergulhado em agonia
Um parto doloroso
Da luz a alegria
Os versos que são paridos
Tem perfeita harmonia
Sertanejo é assim
Não perde a inspiração
Lata d’água na cabeça
Cantando uma canção
Seu bocado arranca a unha
Nesse ressequido chão
O sertão está mudando
Ficando modernizado
Parabólica, internet
E jegue é motorizado
O bichinho que era útil
Agora está desprezado
A mudança é importante
Trás conforto, comodidade
Mas se o pé estiver no campo
E a cabeça na cidade
Sertanejo lutador
Perde a sua identidade
O amor que é intenso
Pelas coisas do sertão
Aos poucos é sufocado
Por leviana paixão
O consumo e a cidade
Lhe roubam o coração
Se o cabra é seduzido
Perde a força de lutar
Não cria, só reproduz
A terra num quer plantar
A rede fica guardada
Não tem vara de pescar
Descanso agora é luxo
Sua vida é o trabalho
Enriquece o patrão
Operário explorado
E o sertão agora é verso
No seu poema chorado.