O CORVO E A RAPOSA ( baseado na fábula de Jean de La Fontaine , poeta e fabulista francês-1621/1695)

Certo dia um velho corvo

Petulante e vaidoso,

Bicou um pedaço de queijo

Fresquinho e muito gostoso,

E pousou em uma árvore

Para um almoço saboroso.

Uma raposa astuta

Atraída pelo cheiro,

Sentiu o bucho roncar

A ali chegou ligeiro,

Porém, ao olhar pra cima

Desanimou por inteiro.

O que fazer pra chegar

Alcançar aquele galho?

Sem asas era difícil

E não havia atalho,

Pensou jogar um rebolo,

Um pedaço de cascalho.

Quem sabe, assim poderia

O velho corvo derrubar,

Tirar do bico do bicho

O verdadeiro manjar,

Meter tudo na bocarra,

Comer até se fartar.

E já que era esperta

Arquitetou logo um plano:

Tecer muitos elogios,

Chamar o corvo de mano

Quando ele abrisse o bico,

Sofreria o desengano.

Olhou para cima da árvore

E fez uma saudação:

- Bom dia, Corvo, meu amo,

Desculpe a pretensão,

Mas se você me escutar

Sei que me dará razão.

Você é belo e talentoso

E não perde pra ninguém,

Decerto é muito bondoso

E um bom coração tem,

Se quisesse deixaria

Eu comer queijo também.

De antemão eu lhe digo,

Amigo, muito obrigada,

Não se preocupe comigo

Estou bem alimentada,

Só vim trazer um carinho

Um lisonjeio, mais nada.

Eu acho que entre as aves

Igual a você não existe,

Porque a sua beleza

Alegra a quem está triste,

Por causa dos seus encantos

Quase ninguém lhe resiste.

Andam a dizer por aí

Que a formosura é tanta,

Quando as asas você abre

A todos você encanta,

Mas perde para o rouxinol

Somente porque não canta.

Porém eu tenho certeza

Que se quisesse cantar,

Não existiria um pássaro

Capaz de lhe desbancar,

E o rouxinol, coitadinho,

O bico iria fechar.

O corvo jamais ouvira

De alguém tantos elogios,

Quis dar uma de cantor

E ensaiou uns assobios,

Mas quando abriu o bico,

Até teve uns calafrios.

É que o pedaço de queijo

De repente escapuliu,

Rolou de árvore abaixo

Aí foi que ele sentiu,

Que caíra numa cilada

O seu almoço sumiu.

E a danada da raposa

O queijo abocanhou,

Disse: - Obrigada, meu amo,

Comer bem longe eu vou,

Garanto que este truque

Jamais alguém lhe ensinou.

Aprenda a desconfiar

De adulações e de beijo,

De agora em diante

Boa sorte eu lhe desejo,

Tomara que esta lição

Valha mais que o seu queijo!

***

Maria do Socorro Domingos dos Santos Silva

João Pessoa, 16/04/2012

Mariamaria JPessoa Pb
Enviado por Mariamaria JPessoa Pb em 16/04/2012
Reeditado em 20/03/2024
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