Por mais que perca o brilho Seu chão é o seu alento
Eu vi a seca da bruta
Vi chuva fina de tarde
Sol quente que até arde
A pele de quem labuta
Vi muita gente “batuta”
Que transforma o sofrimento
Da terra tira o alimento
E põe na mesa pro filho
Por mais que perca o brilho
Vi muito homem-menino
No lombo de um cavalo
Mãozinhas cheias de calo
Manchadas pelo destino
Gigantes, os pequeninos
Buscando lugar ao vento
Lutando feito um jumento
Colhendo feijão e milho
Por mais que perca o brilho
Seu chão é o seu alento.
Vi pasto seco e torrado
Também vi gado com sede
(Bahia não é só rede!)
Tem muito rosto queimado
Tem corpo quente e suado
Tem coisas sem cabimento
Vi coisas que nem agüento
Me põe pra fora do trilho
Por mais que perca o brilho
Seu chão é o seu alento.
Vi muita serra bonita
E serra sendo cortada
Pra dar lugar à estrada
Onde ninguém mais habita
Vi gente que corre e grita
Pra acalmar seu tormento
Açude secando, barrento
Que serve de água ao novilho
Por mais que perca o brilho
Seu chão é o seu alento.