Analfabeto.

Analfabeto.

Me dê licença seu moço

Para falar com o senhor,

É que estou meio cansado

De viver acabrunhado,

E sem ter nenhum valor.

Desde quando eu nasci

Ainda como menino,

Pai mandava e eu fazia

Era assim no dia a dia,

Pelas trilhas do destino.

Meu pai não tinha saber

Só era trabalhador,

Tinha suas mãos calejadas

Marcas do cabo da enxada,

E da lida sem valor.

Da roça tirou sustento

Pra criar a filharada,

Mãe era só parideira

Treze filhos na fileira,

Parece conta inventada.

Eu sou Germino o mais velho

Olegário, Permino, e Josafá,

Elpidio, Benedito e Josué

Mãe nunca pariu uma mulher,

Que pudesse na lida lhe ajudar.

Rufino, Tiago e Serafim

Antonio, Crispim, Siloé,

Todos com sobrenome de Jesus

Parecia o peso de uma cruz

Unindo a família pela fé.

Leitura aqui ninguém sabia

Nem escrever, nem contar,

Assinava com o dedão

É tão triste a situação

Que nem gosto de lembrar.

Meu pai, minha mãe, meus irmãos

Analfabetos de berço, de nascença,

A ignorância aqui era passiva

Sentada numa cadeira cativa,

Ausente da lista de presença.

Não tinha escola por aqui

E se tinha nós não sabia,

Não conhecemos um professor

Leigo, sabido, ou doutor,

Do jeito que fosse nos valia.

O jeito foi crescer na ignorância

Cegos de leitura e de saber,

Analfabetos em todos os sentidos

Tendo boca, tendo ouvidos e tendo olhos,

Que de nada servem se não sabem ler.

Guel Brasil
Enviado por Guel Brasil em 14/04/2012
Código do texto: T3612637
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