O riacho assombrado de Jão cocá.

Tem homem muito medroso

E muitos homens valentes

Tem homem religioso

Também tem homens descrentes

Neste rumo vou contar

Um causo que Jãococá

Contou um dia pra gente

Todo mundo reunido

Numa conversa gostosa

Na fazenda de seu Vitor

Que fica lá na formosa

ninguem não sabe explicar

Mas nessa hora cocá

Chegou também nessa prosa

pois veio sem lamparina

Nem mesmo um simples tição

E nem um facho de fogo

Ele trazia na mão

Fedendo igual caipora

Ele riscou a espora

Saiu faísca do chao

Todo mundo se assustou

Ao ver aquele clarão

Zé bejú caiu no mato

Cheinho de cansanção

Paulão caiu na quiçaça

Dedé fez coco na calça

Pensando ser lampião

Porem zezim caçaramba

Que se dizia valente

Encostou-se à parede

Botou o facão na frente

E disse todo mijado

Acho que nem o diabo

Ia matar um doente

Pois caçaramba ficou

Só porque era perneta

Na hora da confusão

Ele perdeu a moleta

Nao tinha como fugi

Teve que ficar ali

Encostado na mureta

Entao coca já tomou

O facão de caçaramba

Que tava todo cagado

E com uma perna bamba

E chamou o pessoal

Que tava passando mal

Cada um pra uma banda

Mas quem levou a pior

Foi o tal de Zé Moreira

Quando subiu a faisca

Llhe bateu uma cegueira

Ele então sem nada ver

Pra se livrar de morrer

Pulou dentro da fogueira

E quando entrou já sentiu

No lombo a forte quentura

Começou suar bastante

E a Perna ficá dura

E então falou assim

Ó meu senhor do bom fim

Livra-me dessa amargura

Neste momento sentiram

Cheiro de chifre queimar

E a sua santa esposa

Já começou a rezar

Bem triste falou assim

Já ta morto, então por mim

Deixa acabar de assar

Porém naquele momento

Reconheceram cocá

Sentaram todos de novo

Pro causo continuar

Jaó cocá pediu a vez

Disse um causo pra vocês

Eu também quero contar

E falou: eu tinha um boi

Daquela raça zebu

Era preto, mas tão preto

Que chegava ser azul

Era um belo boi de canga

Dormia num pé de manga

Do lado dum murundu

Eu botei o apelido

Nesse meu boi de tição

Por ele ser tão pretinho

Quase da cor de carvão

Num riacho ele bebia

Mas porem um certo dia

Me cortou o coração

Tinha atrás do murundu

Uma estradinha de terra

Passava por um riacho

Que deslizava da serra

Servia de bebedouro

Era o maior tesouro

Que tinha na minha terra

Pois era só dar a sede

Que tição estava ali

Enchia bem a barriga

Depois tornava subir

Deitava em baixo da manga

Eu então botava a canga

Pra carregar licuri

Mas um dia tição foi

Como tava acostumado

Encheu a sua barriga

Mas quando virou de lado

Não sei se tu acredita

Uma sucuri maldita

Matou meu boi enforcado

Era uma sexta feira

No quinto dia do mês

Então um urubu branco

Um grande furo lhe fez

Deixou tição reganhado

Meu tição foi violado

Por sua primeira vez

Quando morre um animal

Urubu rei sente o cheiro

Antes mesmo de feder

Ele chega lá primeiro

Porque não tem paciência

Come o zoi e na sequencia

Come também o fueiro

Já se passavam 2 dias

Tição do lado do rio

Os carniceiros chegaram

De alegria sorriu

Trazidos pelo olfato

Entrou naquele buraco

Que o urubu rei abriu

Os urubus devoraram

Todo fato de tição

Comeu o bucho e a língua

As tripas e o coração

Mas não pensou no azar

Pois começou esquentar

Pois era bem no verão

Criou vaco na barriga

E o cadáver estufou

O fiofó de tição

Ligeiramente fechou

O couro foi se inchando

Rapidamente tomando

A forma de um tambor

Os abutres na barriga

Começaram debater

Não achavam uma saída

E com medo de morrer

Quase ninguém acredita

Roncavam igual a cuíca

Era um grande fuzuê

O barulho era igualzinho

Uma casa de umbanda

Mais de duzentos tambores

Batendo em noite de samba

Então Tião de coló

Se armou com um biscó

Pra desvendar a cuanga

Ao chegar lá no riacho

Tião se arrepiou

Viu um coro cabeludo

Que parecia um tambor

Pensou:é assombração

Naquela forte emoção

Nas calças Tião cagou

Entao voltou pra budega

Todo sujo de cocô

deu um gole na meota

e depois ele falou

Ví o demo no riacho

batendo dentro dum tacho

Em um gigante tambor

Então rolou a conversa

Que tinha uma assombração

No riacho de cocá

Bebedouro de tição

Um cão batendo tambor

Soltando forte fedor

E uma cobra na mão

E depois daquele dia

Até hoje tem a lenda

Do capeta do riacho

Fazendo uma oferenda

Jão cocá quer se livrar

Porem ninguém quer morar

Nem visitar a fezenda

O nosso psicológico

É uma coisa anormal

Uma mentira bem forte

Pode se tornar real

Nunca seja leviano

Pois nosso pai soberano

Domina o bem e o mal.

joãocorin
Enviado por joãocorin em 13/04/2012
Reeditado em 20/04/2012
Código do texto: T3611235