Dormir em rede dá pesadelo
I
Quando vou dormir em rede
Já deito preocupado
Pois nunca durmo direito
E me acordo estressado
Tenho tanto pesadelo
Que fico descompensado
II
Já sonhei com touro brabo
Correndo pra me chifrar
E eu com as pernas bambas
Sem nem conseguir andar
Só mesmo quando acordava
Conseguia me safar
III
Sonhei com um gafanhoto
Que adorava a folia
Aprendeu cantar Axé
E tocava bateria
Em cima de um Trio Elétrico
No carnaval da Bahia
IV
Sonhei com um macaco cego
Que era exímio pistoleiro
Alistou-se na Volante
Lá pras bandas de Salgueiro
E cada tiro que dava
Acertava um cangaceiro
V
Sonhei com um canguru
Que lutava capoeira
Aprendeu dançar balé
E plantava bananeira
Se apresentando na praça
Nas noites de quarta feira
VI
Sonhei que uma minhoca
Num belo dia de sol
Pegou marreta e bigorna
Desenvergou um anzol
Depois voltou pro buraco
Para costurar um lençol
VII
Sonhei com um babuíno
Soldado do Paquistão
Que se alistou na guerra
Morcegou um avião
E pulou de paraquedas
Para destruir um canhão
VIII
Sonhei com um peixe-espada
Que só nadava de gorro
Traficava cocaína
E se escondia no morro
Quando era perseguido
Se transformava no Zorro
IX
Sonhei com um lobisomem
Que sonhava ser artista
Apareceu na TV
E foi capa de revista
Depois da depilação
Conseguiu ser transformista
X
Sonhei com um saci canhoto
Grande lateral direito
Que não deixou de ser craque
Por causa do seu defeito
E quando cobrava falta
Só batia com efeito
XI
Sonhei com uma aranha
Que nunca fazia teia
Não usava maquiagem
Porque não se achava feia
Mas se transformava em bruxa
Nas noites de lua cheia
XII
Sonhei com uma piranha
Que só nadava de ré
Abandonou o riacho
Pra morar num igarapé
Teve mais de vinte filhos
Sendo dez de um jacaré
XIII
Sonhei com uma cigarra
Que queria ser atriz
Nos dias quentes do ano
Cantava muito feliz
Casou-se com La Fontaine
E foi morar em Paris
XIV
Sonhei com um papagaio
Peregrino em Emaús
Que pregava todo dia
Dizendo que era Jesus
Mas depois se arrependia
Fazendo o Sinal da Cruz
XV
Sonhei com Galvão Bueno
Com o Arnaldo e o Falcão
Numa noite de domingo
Logo depois do Faustão
Transmitindo um tiroteio
Lá do Morro do Alemão
XVI
Sonhei com uma ameba
Que vagava sem destino
Desde que se mudara
Da barriga de um menino
E nunca mais conseguira
Alugar outro intestino
XVII
Sonhei com um samurai
Imperador do Japão
Que veio para o Brasil
Mais liso do que sabão
Se inscreveu no Big Brother
E faturou um milhão
XVIII
Sonhei com um carro flex
Fabricado pela China
Que na crise do petróleo
Não usava gasolina
E deu uma volta ao mundo
Com um litro de vaselina
XIX
Sonhei com Luiz Gonzaga
Tocando um forró no ceu
Mal a festa começou
Foi o maior escarcéu
Pois um santo embriagado
Começou dançar o creu
XX
Vou dar uma paradinha
Porque já estou com sede
Também já estou com sono
Me escorando na parede
Depois de uns goles d’água
Vou armar a minha rede